A concorrência com as grandes embarcações de pesca, as condições das águas e as exigências feitas pelo Ministério da Pesca e pela Marinha para permitir o exercício da atividade estão diminuindo a quantidade de pescadores artesãos na Barra da Tijuca e nas adjacências. Segundo Aloísio Jorge dos Santos, o Pica-Pau, vice-presidente da Associação dos Pescadores Livres e Amigos da Barra da Tijuca e Adjacências (Apelabata), dos cerca de 80 associados, apenas 40 seguem atuantes no dia a dia. No Recreio, a Associação de Pescadores do Recreio dos Bandeirantes (Apreban) tem apenas 35 pescadores na ativa e cerca de 50 associados, segundo o presidente, Luiz Claudio Gonzaga Resende.
A maioria dos pescadores já não trabalha mais nas poluídas lagoas da região; prefere ir para alto-mar.
— Sou pescador há muitos anos. Só em 2007, na época do Pan, é que eu vi a Lagoa de Marapendi limpa. Na época, vi peixes que já não via desde criança. Acho que não despoluem os rios e as lagoas porque não é interessante. A quantidade de pescadores nas lagoas diminuiu muito. É difícil encontrar peixe na lagoa — reclama Pica-Pau.
No mar, porém, há outros problemas. Embaixo do viaduto do Joá, na Praia dos Amores, no início da Barra, a principal reclamação dos pescadores é em relação às grandes embarcações.
— A concorrência é forte. Eles têm tecnologia para detectar os cardumes. Mas o pior de tudo é quando passam arrastando as nossas redes. Não faz muito tempo um pescador nosso montou uma rede, e, com menos de uma semana, um barco de arrasto, que a gente chama de chifrudo, levou a rede dele. Quando acontece isso, é praticamente um mês perdido. Uma rede igual à que ele perdeu custa uns R$ 3 mil — explica Sérgio Faria, conhecido como Borel.
Segundo o Ministério da Pesca, a Instrução Normativa interministerial 12 de 22 de agosto de 2012 determina que pequenas embarcações que praticam a pesca de emalhe, assim como a feita pelos pescadores da Barra e Recreio, podem atuar sozinhas a até três milhas náuticas da linha de costa. A partir daí, as grandes embarcações estão autorizadas a navegar.
A fiscalização fica a cargo da Capitania dos Portos. É ela que realiza ações de inspeção que visam à segurança da navegação, à salvaguarda da vida humana e à prevenção da poluíção hídrica. Entre os itens fiscalizados estão habilitação dos condutores, documentação das embarcações, presença de materiais como coletes e boias salva-vidas, extintores de incêndio, luzes de navegação, lotação e estado das embarcações.
Bom mês rende até R$ 3 mil
A rotina de um pescador começa cedo. Por volta das 5h, o barco já está na água. Cada embarcação vai ao mar, em média, com três homens. Se der peixe, a viagem, para eles, dura em média quatro horas. Segundo Borel, que foi o primeiro presidente da Apelabata, há diferentes tipos de negociações entre os pescadores: ou eles fazem sociedade, dividindo trabalho, lucros e prejuízos, ou o dono do barco contrata ajudantes pagando diárias de R$ 50 a R$ 100. Ele também pode negociar um bom preço por parte da mercadoria pescada.
Na volta, eles se organizam no balcão da peixaria, embaixo do viaduto do Joá. Na Praia dos Amores, vale a máxima de que antiguidade é posto. Os membros da Apelabata há mais tempo têm lugar garantido, mas uma conversa resolve o caso dos novatos que chegam carregados de peixes.
Hoje, se a volta do mar render cerca de 80 quilos de peixes como corvina, pescada, anchova e cação, o dia é considerado bom. No Recreio, 50 quilos de mercadoria já satisfazem.
Os pescadores do Recreio não revelam valores. Já os da Praia dos Amores dizem faturar de R$ 2.500 a R$ 3 mil por mês. Apesar do enfraquecimento da atividade, muitos a exercem por falta de opção.
— Tenho 63 anos e pesco desde os 12. Vivo disso. Nunca aprendi outra coisa. Mas está cada vez mais difícil o nosso trabalho — lamenta Francisco Nascimento, o Bagre, que bate ponto na peixaria do Posto 12, no Recreio.
Mesmo com a concorrência dos supermercados e grandes polos de venda de frutos do mar, as associações mantêm clientes fixos. Alguns recorrem aos pescadores artesãos todos os dias.
— Hoje, estou levando 25 quilos de anchova e corvina. Todo dia venho aqui. O peixe é fresco e de boa qualidade. Às vezes, os pescadores me ligam do mar avisando que tem coisa boa — revela Jozenildo Barbosa, dono de um quiosque na praia.
A recuperação do sistema lagunar da região, um compromisso olímpico, promete melhorar a rotina dos pescadores. Segundo o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, o projeto foi discutido em audiência pública na quinta-feira passada, da qual participaram cerca de 300 pessoas, e aprovado pela comunidade — incluindo o biólogo Mário Moscatelli e o oceanógrafo David Zee, que moram na Barra e acompanham de perto a situação:
— Serão investidos R$ 1,25 bilhão. Começaremos uma obra que vai favorecer navegabilidade, pesca e transporte. E, em dois anos e meio, a Barra e os arredores terão 100% de saneamento. Um pedido dos pescadores que atenderemos é a extensão do Quebra-Mar em 180 metros para impedir o assoreamento da lagoa (de Maparandi), protegendo-a da ligação com o mar.