Estudo registra mil espécies de peixes na bacia do Rio Madeira
A maior pesquisa já feita na Amazônia de ictiofauna – nome que se dá ao conjunto das espécies de peixes que existem numa determinada região – completa três anos com a perspectiva de atingir a identificação de mil espécies na bacia do Rio Madeira.
O estudo liderado pela Universidade de Rondônia (Unir), que descobriu cerca de 40 novas variedades de peixes, credencia o rio como o de maior biodiversidade do mundo.
Parte do programa de conservação da ictiofauna para a construção da Hidrelétrica de Santo Antônio, o levantamento avaliou uma área de 1,7 mil quilômetros, quase metade do tamanho total do rio – o 17.º maior do mundo em extensão. Foram encontrados desde novembro de 2008 um total de 957 espécies. No Rio Congo (7.º do mundo), um estudo baseado em estimativas apontou pouco mais de 700.
Segundo os pesquisadores, o alto número encontrado no Rio Madeira está ligado à abrangência da pesquisa. “Graças a um grande aporte financeiro da concessionária responsável pelas obras, pudemos ter uma área de amostra bastante ampla”, afirma Carolina Dória, coordenadora do Laboratório de Ictiofauna e Pesca da Unir.
Entre os principais achados estão um gênero novo de arraia, pouco comum nos rio amazônicos. “Encontramos um indivíduo cartilaginoso, com formato achatado e ferrão de cerca de 50 centímetros de diâmetro”, diz João Alves de Lima Filho, coordenador do inventário de ictiofauna da Unir.
Outros destaques do inventário são um exemplar raro de linguado e uma espécie de peixe brilhante, chamada Phreatobius, que vive em ambiente sem luz, nos lençóis freáticos.
As novas espécies transformaram o acervo do laboratório na terceira maior coleção de peixes amazônicos do País, com um total de 250 mil exemplares. “Não existem catálogos deste porte no País. Nossa coleção é a única no mundo que mantém uma quantidade tão grande de espécies de apenas um rio”, diz Carolina. “Nenhum outro local foi tão bem amostrado como o Rio Madeira, quando se trata de inventário sobre a ictiofauna.”
Até o início do trabalho, que é uma das contrapartidas para a construção da hidrelétrica, o acervo da Unir era de pouco mais de 10 mil exemplares. “Além da contribuição para de fato conhecer o local, o projeto tem propiciado a formação de diversos alunos”, afirma Dória. “É sabido que as universidades federais estão passando por dificuldades, então parcerias como esta são muito importantes.”
Segundo ela, com a colaboração de 70 participantes internos e externos, a produção científica da Unir tem se multiplicado a partir dos quatro projetos do programa de conservação. A instituição, que em média costumava enviar no máximo 7 trabalhos para congressos da área, enviou neste ano um total de 41.
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