Tubarões podem estar procurando novos habitats próximos à costa pernambucana
Está virando rotina para pescadores artesanais pernambucanos encontrar tubarões cada vez mais próximo à costa. Dois animais de mais de dois metros foram capturados em quatro dias no Grande Recife, o que pode ser indício de que esses animais estão procurando novos habitats, mais perto das praias, afirma o engenheiro de pesca Bruno Pantoja, que integra o Projeto de Pesca e Monitoramento de Tubarões na Região Metropolitana do Recife (Propesca).
Uma fêmea da espécie Cabeça-chata com 2,2 metros foi pescada viva nesta terça-feira (13) na Praia de Pau Amarelo, em Paulista, a cerca de dois quilômetros da costa. No sábado (10), foi outra fêmea de Cabeça-chata, medindo 2,65 metros, que estava perto da entrada do Porto do Recife, em uma área conhecida como Boca da Barra, onde o Rio Capibaribe se encontra com o mar.
De acordo com Pantoja, somente as duas ocorrências não são suficientes para fazer uma análise ou tirar conclusões sobre o que pode ter trazido os tubarões para a costa. No entanto acredita que pode apontar que, com a destruição dos ambientes de refúgio, reprodução e alimentação dos tubarões, os bichos podem estar procurando novos habitats.
O engenheiro de pesca acusa o desequilíbrio ambiental provocado pelo descontrole da pesca como principal fator para essa escassez de alimentos para os tubarões. “Os estoques pesqueiros locais estão em desequilibrio e muitas espécies estão em estágio de ameaça de extinção, como os cerranídeos”, explica.
Ele explica que, com o colapso dos manguezais, ambientes usados pelos tubarões para reprodução e refúgio, os bichos saem à procura de novos locais. Os da espécie cabeça-chata são territorialistas, ou seja, costumam dominar o espaço onde vivem. Para o engenheiro, isso quer dizer que as fêmeas encontradas podem já estar se reproduzindo ou já haver passado por esse processo. São solicitadas informações sobre o estágio gonadal, a fase de maturação e o conteúdo estomacal dos bichos para iniciar pesquisas.
O animal capturado no sábado foi levado pelos pequisadores do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) para a UFRPE para estudos (Fotos: Clemilson Campos/JC Imagem)
Pantoja afirma que a captura de tubarões por pescadores artesanais, que antes era um fenômeno raro, está afetando até a forma de trabalharem. Alguns passaram a usar até cabos de aço nas redes para que não sejam destruídas pelos animais. “Com a falta de outros peixes, muitos deles estão até saindo para pescar tubarões”, diz.
Uma proposta do engenheiro, que prepara um dossiê sobre o assunto, é a educação dos pescadores artesanais e, principalmente, a regulamentação e fiscalização do trabalho das empresas pesqueiras, para evitar o desequilíbrio. “O Propesca mostra que o risco está se potencializando”, afirma. O grupo cobra políticas emergenciais de prevenção de riscos ao Governo do Estado.
http://ne10.uol.com.br