Amazônia – O berço dos gigantes
Mais uma vez embarcamos na jornada sonhada por muitos pescadores e concretizada por poucos, voltamos na Amazônia em busca dos cobiçados tucunarés Açu.
Nosso destino foi Barcelos e a escolha mais uma vez foi o Kalua Barco Hotel, um dos mais completos quando se trata de pescaria na Amazônia, com uma tripulação experiente, o Kalua possui um staff com guias conceituados e conhecedores de toda extensão do Rio Negro e seus afluentes, isso garante uma pescaria mais segura e uma probabilidade de sucesso ainda maior.
Logo no encontro no saguão do aeroporto em Manaus já se percebia que a pescaria seria totalmente diferente do normal, pois a bordo do Kalua e pescando com um grupo total de 14 pessoas estavam dois dos maiores fornecedores de iscas no Brasil, Zezito dono das Iscas Borboleta e Marcelo, dono das Iscas Zagaia.
Em vôo fretado partimos para Barcelos e já no desembarque fomos recepcionados pela equipe do Kalua e de la direto para o embarque de uma semana de pescaria. Após as apresentações e escolha dos camarotes, fizemos uma breve confraternização e já começamos a nos organizar para o primeiro contato com os tucunas já na saída de Barcelos.
Tralha nas voadeiras, bebidas e suprimentos a bordo e pé na tábua para eliminar a ansiedade do primeiro contato com o rio. No primeiro dia tivemos muitas ações de tucunarés Açu, borboleta e paca, além de muitas traíras que não se intimidaram perante nossas iscas e entraram na disputa com os tucunarés. Nos dois dias seguintes nos dividimos na subida do rio negro rumo ao ápice da nossa pescaria, nosso destino era o encontro dos Rios Preto e Padauiri e durante o trajeto tivemos grandes fisgadas, com tucunarés entre 3 kg e 6 kg, em relação à fartura de peixes, é inegável que todos se deram muito bem e chegavam com contagens na casa de 100 capturas (considerando apenas os tucunarés) por dia.
Já no quarto dia o Kalua estava no destino pretendido e começamos a ver mudanças no comportamento e no tamanho dos Açu. Minha pescaria em particular foi muito gratificante e diferente dos demais. Como estávamos entre amigos, nos primeiros dias pesquei com o Fábio (Fabão) médio em Ilhéus e grande apreciador da pesca esportiva, tem um hobby inusitado, fabricar iscas “esquisitas”… Isso mesmo, em sua tralha sempre se encontra alguma isca de fabricação própria e duas em especial fisgaram peixes nesses dias. O “Vagner Love” saiu premiada com um peixe cachorro de 1,5 kg e o “Papai Noel” foi premiado com um tucunaré Açu de 5 kg fisgado em uma tacada de sorte em um cardume que encontramos pelo caminho. No quarto dia fiz a pescaria com o Fred, outro médico de Ilhéus e parceiro do Fabão e nos dias seguintes a pescaria foi na companhia de Ian-Arthur de Sulocki, esse dispensa apresentação, experiente pescador e conhecedor dos rios amazônicos, foi um companheiro que passou muita técnica e informação, além de compartilhar vários equipamentos durante a pescaria.
Justamente no início da manhã do quarto dia ainda no rio negro e na companhia de Fred, saiu o maior tucunaré da viagem. Já as 05h30min AM estávamos chegando a um dos pontos de pesca que nosso guia Nazareno programou. Começamos achando um cardume de tucunaré paca entre 2 kg e 5 kg o que já estava em uma faixa considerável para um início de pescaria.
Apesar de ser um lugar com muitas estruturas e características fantásticas para a captura de grandes exemplares, nosso guia insistia que fizéssemos arremessos no meio do lago para atrair a atenção dos Açus que segundo ele estavam por ali. Eu continuei a fazer arremessos nas estruturas intercalando com alguns outros no meio do lago, já o Fred se propôs a fazer o que o guia sugeriu e de repente o mérito veio de forma brilhante, eu que acabara de soltar um tucunaré de 3 kg fisgado nos arremessos nas galhadas, assisti uma bela briga de um tucunaré Açu que o Fred capturou no meio do lago. Demorou até que a cara do bicho aparecesse, enquanto isso, só se ouvia o barulho da linha cantando na corrida do peixe e a emoção do Fred gritando “esse é grande”.
“Nessa época do ano o rio negro e a maioria de seus afluentes ainda estão baixando ou já estão em um nível quase inavegável em alguns pontos, assim o meio dos lagos que se formam ficam mais rasos e algumas vezes com algumas estruturas a mostra, assim os tucunarés maiores acabam se acomodando nesses locais. Por esse motivo alguns guias insistem que o pescador faça arremessos no meio dos lagos.”
Depois de uma canseira de ambos os lados, o tucunaré se rendeu e se mostrou aos olhos de seu oponente. Tratava-se de um Açu de 7 kg, um barco com americanos que também pescava na região aplaudiram e se mostraram entusiasmados com a captura. Para nós foi um triunfo já no início da manhã fisgar um peixe de grande porte, alegria estampada na cara, suor e gratidão pelo belo duelo, era hora de fotografar e soltar o rei amazônico. Depois dessa premiação, era seguir em frente e buscar novas aventuras.
Para os que acharam que esse era o maior prêmio do dia, se enganaram. Na seqüência da pescaria segui a orientação do guia e tanto eu quanto o Fred começamos a fazer arremessos sempre no meio do lago em busca de novas emoções. Essa opção é cansativa, com menos capturas, mas com grandes possibilidades de fisgar peixes maiores.
Enquanto muitos preferem arremessar iscas maiores ou iscas de hélice, eu particularmente busco outras opções que reproduzem algum barulho e que tenha uma eficiência compatível às grandes mencionadas. Enquanto o Fred usava uma isca do tipo zara de 12 cm “Zé Pepino da Isca Zagaia”, eu insisti na opção do Guia, usei um Popper, mas nada muito grande. Para equiparar nossa pescaria, e equiparar a eficiência dos nossos companheiros representantes das marcas de isca já mencionadas, enquanto o Fred prestigiava o Marcelo da Zagaia, optei pelo “Stick Popper da Borboleta”, e prestigiar o presente do Zezito.
Por mais ou menos uma hora tivemos belas ações de tucunarés na casa dos 4 kg, depois desse período, já com o braço cansado e prestes a fazer uma pausa para repor um pouco das energias, eis que silenciosamente surge um Açu que sai em disparada com a stick Popper enganchada na boca. Diferente da reação da maioria dos pescadores, Fred recolheu sua isca e deu espaço para o trabalho na captura, digo isso porque normalmente o impulso da maioria é arremessar em seguida na tentativa de fisgar um companheiro que porventura esteja caçando junto, mas nesse caso meu parceiro se colocou no papel de expectador e se pôs a assistir a briga que travava com o bitelo.
Coração em disparada e tome linha. Quando se trata de um grande peixe e no caso da Amazônia um Açu de grande porte, de nada adianta confiar somente no freio da carretilha, o jeito é colocar o dedão para trabalhar e segurar o máximo possível a corrida, mas sempre controlando e deixando a folga necessária para que o peixe tenha liberdade de se movimentar e não estourar a linha. O instinto natural do tucunaré é correr para alguma estrutura e se livrar logo da isca, mas nesse caso, como a captura foi no meio do lago, a possibilidade de perder o peixe é menor e o trabalho juntamente com a paciência fazem a diferença para não perder o troféu.
Mantendo sempre a ponta da vara para cima, travei uma disputa de igual com o rei local, enquanto ele corria de um lado para outro, eu trabalhava para diminuir seu espaço e mantê-lo o mais dominado possível. Como citei na captura do Fred, não dava para deixar de notar o som da tomada de linha e as cabeçadas a todo o momento. O tucunaré insistia e fazia questão de mostrar seu potencial e não se entregar, a vara a todo o momento se envergava a seu limite e o danado não se dava por satisfeito; Fred e Nazareno sempre atento as voltas que o tucunaré dava ao redor da voadeira e ambos com o boga nas mãos caso fosse necessário utilizar em um momento de necessidade.
Por duas vezes durante nossa batalha ele ensaiou um salto, mas somente na terceira é que realmente pudemos ver sua envergadura “é muito grande” gritou o Nazareno que em seguida me pediu calma e fez seu trabalho com maestria, com o motor elétrico direcionava o barco para abrir espaço e deixar a briga continuar.
Passados entre 10min e 15 min já suando bastante e conseguindo trazê-lo mais próximo do barco, ele resolveu se entregar. Depois de mostrar quem é que mandava na área, o belo tucuna de 23,5lb (cerca de 10.5 kg) se rendeu a prática esportiva e nos deixou fotografa-lo.
Foi uma disputa digna de final de campeonato e com uma beleza que só o Açu tem, depois de deixar que ele descansasse (Importante manter a oxigenação do peixe) já com o braço tremendo erqui o belo Açu para registrar a cara do maior oponente da espécie que em minhas pescarias. O mérito não foi só meu, foi da experiência do Nazareno meu piloteiro naquela semana que definiu os locais de pesca e trabalhou o barco para facilitar a captura, do meu parceiro de pesca que de maneira correta permitiu que eu tivesse todo o barco para trabalhar, e sem dúvida o capitão do Kalua Edmilson juntamente com o Ian-Arthur que definiram o roteiro da nossa pescaria.
Depois dos registros, cumprimentos e comemoração pela emoção sentida, era hora de deixar aquele belo peixe seguir seu curso e trazer a mesma emoção a um pescador futuro.
O restante do dia ainda nos reservou grandes capturas, Fred ainda fisgaria mais dois açus de 6kg e eu mais um de 5kg e um de 6kg, além de uma dezena de outros entre 2kg e 4kg.
Nesse mesmo dia ainda tive uma linha estourada por uma Açu provavelmente da mesma proporção do primeiro, mas o fator mais provável para que a linha se rompesse, pode ter sido seu desgaste nas estruturas em que ele se meteu. É muito importante durante todo o período de pescaria reavaliar o estado do equipamento, se achar que há desgaste, faça a reposição ou substitua por outro mais resistente.
Nos dois dias subseqüentes fiz uma pescaria tendo o Ian-Arthur como parceiro e outro barco com Zezito e Alec na companhia. Nosso destino foi os braços de lagos que existem no Rio Padauiri.
Novamente seguindo a orientação do nosso guia, adentramos uma lagoa que estava fechada pela queda de algumas árvores. Nas Amazônia não tem moleza, para chegar aos melhores locais de pesca, às vezes é preciso encarar caminhos de difícil acesso e a prática e experiência de quem está te levando faz a diferença nessa hora. Depois de vencer um trecho de meias ou menos 200 metros que tomou 40 minutos de nosso tempo, eis que surge um lago aparentemente estreito, mas com grandes surpresas.
Já nos primeiros arremessos a recepção foi das melhores, o Ian capturou um tucunaré paca de 4 kg, Zezito um tucunaré Açu também de 4 kg e eu outro Açu de 5,5kg. Em um trecho de mais ou menos 10 metros ficamos arremessando e capturando tucunarés, trairões e jacundás por mais de uma hora e só depois demos seqüência na exploração do lago.
Como mencionado, aparentemente parecia um lago estreito, mas à medida que avançamos, o lago foi se abrindo e se revelou ser muito grande e com boas expectativas. Tanto nós quanto o barco em que estavam Zezito e Alec capturamos muitos exemplares de grande porte, os maiores ficaram para dois de sete kg e mais quatro de 6 kg, mas um em especial chamou bastante atenção e mais uma vez coube a mim uma experiência.
Ao capturar um belo tucunaré de 7 kg, no momento em que o vimos saltar, pensamos se tratar de um peixe maior do que o apresentado, isso porque o tamanho de sua cabeça era desproporcional ao restante do corpo. Quando fizemos uma analise dentro d’água pensamos que fosse um peixe acima de 10 kg, mas depois o boga e o afinamento visível do restante do corpo mostraram o contrário.
Como estávamos na companhia do biólogo Alec Kruzed Zeinad que recentemente lançou em parceria com Rubens de Almeida Prado o livro “Peixes Fluviais do Brasil, espécies esportivas” ele nos explicou que pode ter essa formação por uma adaptação física, não é muito comum com tucunarés, mas pode ocorrer.
Durante essa captura o tempo fechou e começou uma chuva que parecia ser rápida, mas que de repente se transformou em um temporal, resultado, na seqüência da pescaria não houve grandes capturas e após um período de busca sem sucesso retornamos ao barco.
Durante esses dois últimos dias de pescaria, o que mais surpreendeu foram capturas de tucunaré borboleta de 3 kg, tucunaré popoca de quase 2 kg e muito jacundá e apaiari. No caso dos tucunarés, o peso é considerável e caracteriza um peixe grande para a espécie, outro peixe que muitos fisgaram durante a pescaria foi o aruanã.
Todos os pescadores que estavam embarcados com a gente também obtiveram bons resultados e fizeram pescarias em rios diferentes, como o Kalua ficou ancorado na boca do rio negro com opção de pesca nos rios Atauí, Preto, Padauiri, Cuiuni e Arirarrá. Alguns pescadores fisgaram tucunaré de 6 kg, 7kg, 8 kg e 9 kg em pontos diversos, no Rio Preto a dupla Marcelo e Gedeão fisgaram no mesmo dia três tucunas de 8 kg e outros seis de 7 kg e 6 kg, já a dupla Luiz Ricardo E Biajoto fisgaram exemplares de 7 kg e um de 9 kg, Zezito e Alec fisgaram tucunas entre 4 kg e 7 kg , a dupla Sérgio e Ciro fisgaram tucunas também entre 4 kg e 7 kg e a dupla Afonso e Pedro fisgaram tucunas de 4 kg a 8 kg. Os demais pescadores Fred, Fabão e Jerson se intercalaram entre meu barco e o do Ian e fizeram capturas nas mesmas proporções.
Durante toda a semana optei por não almoçar no Kalua, fiz as refeições durante a pescaria sempre com um prato bem preparado pelo Nazareno e com um peixe realmente fresco grelhado na hora em uma churrasqueira improvisada. Durante todos os dias, não faltaram bebidas de todos os tipos nem lanches e petiscos para nos sustentar no período de 12 horas diárias de pesca.
Já as 05h: 00h AM o café estava sempre à mesa nos esperando para mais uma jornada diária. O Éder, responsável pelo setor, juntamente o passarinho (Ailton) além do café sempre bem preparado, mandaram bem nos petiscos do Happy Hour da galera que se reunia todo fim de tarde para colocar em dia os assuntos da pescaria, isso sem contar o jantar com pratos variados e sobremesas com frutas da região. Destaque para o sashimi, o ceviche e o pastelzinho de tucunaré.
Claro que tudo isso não seria possível sem a ajuda das cozinheiras Alba e Maria que estão sempre dispostas a preparar e inovar em todos os quesitos e ainda têm uma mão para o tempero que agrada a todos sem exceção.
No Kalua você ainda vai ter a sua disposição a Suzi, uma eficiente camareira que organiza seu camarote e entrega sua roupa limpa e dobrada no final do dia, os marinheiros de convés que auxiliam na organização das voadeiras, o Alberlei que é responsável pelo funcionamento dos propulsores, o comandante Edmilson que se responsabiliza por toda a logística da viagem e tem como auxiliar um prático, além de toda uma equipe do barco de apoio a bordo do tempestade, que acompanha o Kalua e abriga os guias de pesca.
Vale lembrar que por mais prevenido você seja, pescar na Amazônia pode sempre lhe trazer surpresas, às vezes boas por um lado e frustrantes por outro, então antes de embarcar nessa maravilhosa aventura que é ir pescar os grandes açus, consulte os responsáveis pelo barco hotel, que equipamento levar, quais são mais eficientes, se organize e faça a diferença acontecer. Faça um check-list uma semana antes de embarcar e consulte novamente o responsável, ele é o mais indicado para lhe orientar pois está na região o tempo todo.
Se ficar alguma coisa para traz, não se desespere, falo na experiência que tenho com o Kalua, pelo menos nesse barco hotel você encontra iscas, linha e algumas outras tralhas a venda a preço de mercado. Uma inovação é o kit que os guias possuem a sua disposição caso queira arriscar uma isca diferente, só é cobrado o uso se a isca for perdida, caso contrário não há custo pelo uso, é uma opção a mais para seu sucesso na pescaria.
Agradeço a toda equipe do Kalua Barco Hotel e do barco de apoio Tempestade pela experiência e mais uma vez proporcionar momentos inesquecíveis na Amazônia e especialmente ao Ian-Arthur amigo que sempre se dispõe e está pronto para fazer o melhor, ao Alexandre Arruda (Mega) que se desdobra a todo o momento para que tudo ocorra da maneira mais confortável e ao Otávio Chaves que organiza tudo para que os pescadores cheguem com segurança para o embarque.
Valeu pessoal e até a próxima.
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