A toninha (Pontoporia blainvillei), espécie de golfinho endêmica da Região Sul do Brasil e em risco de extinção, pode ter seu status de ameaça agravado. Isso porque a mortalidade da espécie tem crescido principalmente por causa da pesca na região. No Rio Grande do Sul, essa situação é acompanhada pelo pesquisador do Laboratório de Mamíferos Marinhos/FURG e colaborador da ONG KAOSA, Emanuel Carvalho Ferreira, que, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, realizou a pesquisa “A mortalidade de toninhas nas pescarias de emalhe na costa sul do Rio Grande do Sul”. Os estudos mostram que, há bastante tempo, quantidades elevadas de toninhas têm sido capturadas acidentalmente, o que levou a um sério comprometimento da sua população.
A equipe trabalha com essa espécie desde os anos 1990 e, em 2011, começou a buscar dados sobre a mortalidade da toninha e sua relação com a pesca de emalhe. Esse estilo de pescaria consiste em deixar a rede boiando no mar durante um determinado período e depois recolhê-la juntamente com os peixes que ficaram presos nela. Todavia, como o tempo de espera é longo (12 a 14 horas) e as redes são extensas (algumas podem chegar a até 30 quilômetros de comprimento), diversas outras espécies que não são o foco da pescaria acabam presas. “Como a toninha é pequena e tem um hábito costeiro, ela é muito sensível a esse tipo de pesca”, ressalta Ferreira.
Segundo ele, a diminuição do tamanho das redes de emalhe é um passo que precisa ser tomado imediatamente, pois 30 km torna a situação insustentável, tanto para a toninha quanto para qualquer outra espécie capturada pelas pescarias. Os contínuos esforços de pesquisa na área resultaram em recomendações no Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pequeno Cetáceo Toninha – PAN Toninha, que sugere diminuições das redes para sete quilômetros. O pesquisador destaca que um trabalho de conscientização com os pescadores locais já está sendo realizado. “Eles estão participando conosco e percebem a importância da preservação da toninha, inclusive eles nos fornecem muitas informações valiosas”, explica Ferreira.
A maior ação no sentido de proteger a toninha está na própria pesquisa. Nela foram descritos cenários com simulações de exclusão de pesca em áreas de 5 m, 10 m, 15 m e 20 m de profundidade a partir da linha de costa, criando-se uma região de proteção ambiental. “Verificou-se, então, que se for criada essa área de proteção de até 20 metros de profundidade, haverá uma redução de 72% na mortalidade das toninhas na costa do Rio Grande do Sul”, explica o pesquisador. Ele destaca ainda que, se essa situação se concretizasse, não seria apenas a toninha que seria preservada. “Essas redes podem formar uma barreira quase intransponível para as espécies marinhas. Não é apenas a toninha que está sendo prejudicada, mas também espécies de tartarugas e até mesmo de tubarões. Por isso, se a pesca for proibida nessas regiões, todo o ecossistema marinho será conservado”, aponta.
Para Ferreira, a parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza foi muito importante. “Já trabalhamos para proteger a toninha há muito tempo e agora o apoio da Fundação nos proporcionou a continuidade dos estudos, possibilitando termos um panorama geral da situação das toninhas para buscar formas de conservá-la em seu habitat natural”, conclui.
Para o pesquisador, é preciso envolver os órgãos responsáveis para colocar a pesquisa em prática. “Estamos em contato com o IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente, bem como com instituições de pesquisa parceiras e pescadores para implementar as ações recomendadas por essa pesquisa”, afirma.
Características da espécie
A toninha é um pequeno cetáceo endêmico do Atlântico Sul-Ocidental, vivendo em águas costeiras desde o Espírito Santo até a Argentina. Essa é uma das menores espécies de golfinho do mundo. Ela mede entre 1,30 e 1,70 metros de comprimento. Sua coloração é parda-marrom, o que possibilita sua camuflagem nas águas turvas da região. Ela tem o bico comprido e muitos dentes bem pequenos. Com hábito costeiro, a toninha é bastante arredia. Como um predador de topo da cadeia alimentar, a preservação dessa espécie é muito importante para o equilíbrio da biodiversidade da região.
Sobre a Fundação Grupo Boticário – A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já doou quase US$ 12,4 milhões para 1.326 projetos de 465 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Projeto Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.