O uso de apenas 1% do lago de Balbina – o equivalente a 2,6 mil quilômetros quadrados da área total do local – poderá triplicar a produção de peixes em cativeiro no Amazonas. De acordo com o secretário executivo adjunto da Pesca e Aquicultura do Amazonas (Sepa), Geraldo Bernardino, o Estado – que hoje produz em torno de 20 mil toneladas de pescado por ano -, passará a ter um potencial de 60 mil toneladas, em particular, de tambaqui, matrinxã e surubim. “Esses peixes são vendidos com um valor agregado diferenciado para o mercado porque são utilizados para a produção de polpa de peixes, que é consumida em grandes escala por empresas e distribuída nas escolas estaduais e municipais”, declarou.
Para ser implementado, porém, o projeto depende da conclusão de estudos de impacto ambiental que estão sendo apurados pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O Ministério da Pesca e Aquicultura (Mapa) destinou R$ 600 mil para que o Inpa elaborasse um estudo de viabilidade econômica e ambiental do projeto.
A pesquisadora do Inpa e bióloga de água doce e pesca, Elizabeth Gusmão, explica que a piscicultura é um processo muito delicado que requer estudos específicos e coordenados para que os peixes não padeçam de estresse, prejudicando seu crescimento, reprodução ou até mesmo, causando a morte. “Para viabilizar uma produção grande é preciso ter domínio de aspectos como a temperatura, a qualidade da água, alimentação, nível de oxigênio e demais agentes macrobióticos”, salienta.
O superintendente federal de Pesca e Aquicultura no Estado do Amazonas, Raimundo Pereira Costa, destaca que metade da verba para os estudos e pesquisas socioambientais foi liberada. Segundo ele, a outra parte dos recursos deverá ser repassada até o final deste mês. “O potencial do lago de Balbina para a produção de pescado é imenso. Ele vai beneficiar as políticas sociais do governo federal, além de abrir espaços para a piscicultura familiar porque está prevista a concessão de espaços para a produção privada de peixes”, ressalta.
Para capacitar os pescadores do Amazonas, o Ministério da Pesca e Aquicultura firmou convênio com a Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror) para que a Sepa capacite os pescadores às novas práticas de produção. “As famílias que não tinham renda fixa passarão a se organizar conforme o pescado que produzem. Mas, antes, é preciso formar homens e mulheres que devem demonstrar na prática conhecimentos que eles ainda não possuem”, frisa Raimundo Costa.
O chefe do Departamento de Pesca e Aquicultura da Sepror, Ivo Calado, afirma que com o uso do lago de Balbina seria possível eliminar a atual dependência que o mercado interno tem em relação a outros Estados que produzem peixes em cativeiro. “O lago de Balbina possui o que é mais importante para a produção de peixes com qualidade superior. O que não depende de ração nem de conhecimentos técnicos porque a água é de uma qualidade excelente, o PH é perfeito, a clarividade contribui e a alcalinação é ótima. A maior matéria-prima para a criação dos peixes não é a ração, mas a qualidade da água”, frisa.