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Pragas que chegam do exterior ameaçam a fauna aquática brasileira

Na segunda reportagem da série especial que o Jornal Nacional apresenta esta semana sobre os prejuízos provocados por pragas que chegam do exterior, o repórter Tonico Ferreira mostra as ameaças à nossa fauna aquática.

O mexilhão dourado é agressivo. Se agarra às redes de pescaria e se amontoa em quantidades incríveis em reservatórios e tubulações de hidrelétricas, até na maior do país.

“Em Itaipu, em 2001, a densidade média de mexilhão aderido a substrato duro – rocha, madeira ou metal – estava em 26 indivíduos por metro quadrado. Três anos depois a média subiu pra 55 mil. Ou seja, duas mil vezes mais”, apontou Domingos Fernandez, veterinário.

A empresa proprietária de outra usina, no Rio Iguaçu, Paraná, gasta R$ 500 mil por ano com a limpeza de maquinário e medidas de controle do molusco. Como espécie invasora, o mexilhão ocupa o lugar das espécies nativas e altera o ecossistema.

Se o mexilhão dourado vive em água doce, como foi que ele saiu da Ásia e veio para a América do Sul, dois continentes separados por milhares de quilômetros de água salgada? Única possibilidade: um erro na operação de navios em portos de água doce.

Navios precisam de água de lastro para se equilibrar. Quando a mercadoria é descarregada, os tanques devem ser enchidos com água. Se for em um porto com água infestada de larvas de mexilhão dourado, elas irão viajar até o porto de destino. Na operação inversa, de carregamento, a água é despejada. As larvas sobrevivem, evoluem para mexilhão e ele se instala.

Esse desastre é anterior à convenção internacional que exige a troca de água doce por água salgada antes da chegada do navio.

O mexilhão dourado, que apareceu em Buenos Aires em 1991, hoje está nas bacias dos grandes rios do Sul do país e já é encontrado em Mato Grosso.

A pioneira do estudo do mexilhão em Porto Alegre diz que esse avanço poderia ter sido estancado. “No início devia ter sido feito uma campanha bem rigorosa para evitar que entrasse na barragem. É o homem que transporta. Algum barco que contaminou”, explica a pesquisadora e professora Maria Cristin Dreher Mansur.

O Ministério do Meio Ambiente diz que fez o possível. “Houve instruções, houve campanhas. Não é fácil, o combate é muito difícil. Teria que quase criar um exército montado diretamente para isso”, afirma a gerente de Recursos Genéticos do Ministério do Meio Ambiente, Lídio Coradin.

Um peixe exótico é outra ameaça aos nossos rios e lagos. A tilápia não é do Brasil, veio da África e é predadora de espécies nativas. Antes só pescada artesanalmente, agora a tilápia se multiplica em áreas confinadas, os chamados tanques-redes. Hoje, o Brasil é o quarto maior produtor mundial.

Uma cooperativa no Rio Iguaçu tem 100 tanques. O risco ,alertam ambientalistas, é o das tilápias escaparem.

“Eu acho que a possibilidade de se ter cultivos em tanque-rede com tilápias em reservatórios e não ter danos ambientais é praticamente zero. Sempre vai ter algum tipo de dano ambiental”, destaca o biólogo da UFPR, Jean Ricardo Simões Vitule.

No reservatório de Itaipu só é autorizada a criação de espécies nativas, como o pacu. Outra forma de invasão ocorre quando uma espécie nativa do Brasil é trocada de lugar. O tucunaré, da Amazônia, por exemplo, foi parar em lagos do Sul e Sudeste. Virou alvo de pesca esportiva.

Uma polêmica que envolve o tucunaré e a pesca esportiva é se o peixe fisgado deve ser retirado e levado pelo pescador ou devolvido a água. Ambientalistas acham que o correto seria não devolver; matar o tucunaré para diminuir a proliferação de uma espécie exótica. Muitos pescadores resistem.

No Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais, os pescadores seguem a estratégia de preservação. Os peixes nativos são devolvidos para a água. Já os invasores…

O governo reconhece que é preciso um entrosamento maior para enfrentar o problema.
“Esse esforço tem que ser articulado junto a outros órgãos que podem ajudar, colaborar nesse controle da introdução e da disseminação de espécies exóticas”, declara o coordenador de recursos pesqueiros da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Gallucci.

Pesquisadores querem regras definidas para as espécies exóticas, principalmente quando se tornam atrativo econômico.

“A política governamental precisa ficar clara no sentido de onde vamos cultivar e o que vamos cultivar. E isso nós realmente não temos ainda”, afirma o biólogo e professor da UFMG Francisco Barbosa.

http://g1.globo.com

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