Ribeirinhos que matavam botos e jacarés para abastecer pescadores de piracatinga vindos da Colômbia, na região do Alto Solimões, estão tentando regularizar essa atividade passando a vender porcos caseiros e vísceras de gado para assim continuar reforçando a renda com o dinheiro dos colombianos e ao mesmo fugir de problemas com as autoridades ambientais brasileiras.
Botos e jacarés mortos, com os corpos em decomposição, são as iscas ideais para a pesca da piracatinga, peixe amazônico também conhecido como “Urubu d’água” por se alimentar de carne em decomposição.
A mudança no “modus operandi” dos ribeirinhos foi notada mais uma vez durante a primeira etapa da operação de fiscalização “Rios Federais”, deflagrada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibam), na semana passada em uma parceria com diversos outros órgãos e instituições do Amazonas.
A Rios Federais foi realizada no médio Solimões, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Reserva Extrativista Auati-Paraná, nos Municípios de Tefé, Maraã e Fonte Boa. O último balanço feito pelo Ibama mostra a emissão de autos de infração que somam R$ 95 mil em multas. Houve, ainda, apreensão de um barco regional com 1.680 kg de pirarucu, 110 kg de piracatinga, 74 kg de tambaqui e 23 animais silvestres (aves e quelônios).
O flagrante da matança de botos e jacarés para uso como isca na pesca de piracatinga é muito difícil, considerando a vastidão dos ambientes aquáticos, e por se tratar de uma prática silenciosa que ocorre nas madrugadas e em lugares de difícil acesso.
Em novembro de 2013, durante a fiscalização do Defeso nos rios Purus e Tapauá, foi encontrada uma embarcação pesqueira que utilizava porcos domésticos abatidos como isca para captura de piracatinga. No decorrer da Operação Piracatinga realizada em dezembro, foi constatado o uso de vísceras de gado bovino na atividade pesqueira, alternativa já recorrente na região, segundo os pescadores locais.
Considerando também as constantes fiscalizações que são realizadas para coibir e combater a prática criminosa de matança de botos e jacarés, os analistas do Ibama observam que há um indicativo de redução dessa prática e mudança de comportamento por parte dos pescadores em busca de alternativas lícitas.
Também na Rios Federais foram realizadas incursões fluviais em locais onde supostamente ocorre tráfico de alevinos de aruanã e matança de botos e jacarés para uso como isca na pesca de piracatinga (peixe necrófago com crescente demanda no mercado exterior), todavia, tais crimes não foram flagrados.