Morador exibe peixes coletados na avenida alagada no Centro de Porto Velho. Uma cena minimamente inimaginável há dois meses ilustra o retrato da cheia do rio Madeira que assola diversas áreas urbanas, agrícolas e extrativistas de Porto Velho.
Em plena avenida Campos Sales, localizada no Centro de Porto Velho, moradores pescam peixes de diversas espécies com varas e inclusive tarrafas. Grande parte dessas pessoas vivem nas comunidades atingidas diretamente pelos impactos causados pela enchente que já é considerada a mais danosa em toda a historia da capital de Rondônia.
Acostumados a viverem em áreas insalubres e com a cultura tipicamente ribeirinha, o contato com a água da enchente que já é considerada pela Defesa Civil como contaminada, para eles não é problema, banhos em meio à avenida alagada e o consumo dos peixes capturados na beira de suas residências se tornaram rotina para a comunidade.
De acordo com o professor do Departamento de Ciências Biológicas da faculdade São Lucas, Ms. Flávio Aparecido Terassini, o surgimento de alto volume de peixes nas áreas alagadas dentro de Porto Velho é resultado da incapacidade dos anfíbios do rio Madeira subirem o rio após a construção da barragem da usina de Santo Antônio.
“A região mais atingida pelas águas aqui em Porto Velho, fica justamente na curva do Rio Madeira, e todos os animais que tentariam subir o rio, lembrando que antes das Usinas tínhamos a famosa cachoeira de Santo Antônio, e como não sobem mais, acabam retornando descendo o rio, e ao fazerem isso, vem em linha reta entrando na área urbana de Porto Velho, como vemos na Av. Rogério Weber. Estes peixes são comuns da fauna do Rio Madeira, e se forem observados alguns morrendo, este fato é devido a grande quantidade de contaminantes que está nestas águas”, justifica o Ms. Flávio Aparecido Terassini.
A poluição dessa região alagada, que pode ser considerada um setor de remanso para os peixes, é oriunda de esgotos e detritos de várias áreas de Porto Velho, uma capital com um desenvolvimento econômico surpreendente nos últimos anos, porém que não possui sequer dez por cento de saneamento básico.
Em um canal natural que pela ação do tempo e abandono do poder público tornou-se um fétido esgoto, centenas de filhotes de peixes de espécies como Pintado, Jaú e Branquinha, morrem pela falta de oxigênio misturados em meio a muito lixo oriundo de detritos químicos e orgânicos jogados diariamente na região. Tudo isso no Centro da capital de Rondônia.
“Os peixes, ao chegarem nestes pontos, acabam procurando alimentos (frutos, insetos, sementes ou outros peixes no caso dos carnívoros) e assim, acabam se deparando com algumas áreas represadas com deficiência de oxigênio na água e completamente poluída com coliformes fecais. Como pesquisador, eu não indico as pessoas a pisarem na água e não seria uma boa ideia fazer o consumo destes exemplares de peixes, principalmente os que já forem encontrados mortos, pois, não podemos dizer do que morreram ou se estão contaminados”, concluiu o Ms. Flávio Aparecido Terassini.