Estiagem prejudica desova de 20% dos peixes nos rios de SP, diz Cepta
A estiagem atípica do começo deste ano impediu que 20% dos peixes dos rios do Estado de São Paulo desovassem na piracema, segundo estimativa de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta) de Pirassununga (SP). A consequência são menos peixes nos rios e um ecossistema prejudicado.
O movimento de pescadores na prainha de Pirassununga, que nesta época do ano é grande, caiu. O pescador Durval Francisco alugava 12 barcos por dia para os visitantes, mas, com pouco peixe no Rio Mogi Guaçu, poucos turistas aparecem. “O pessoal acaba não vindo pescar. Abril é um mês que pega muito peixe, muito bom para a pesca, mas esse mês não teve”, contou.
Reprodução prejudicada
Os pescadores estão desanimados e dizem que nunca passaram por isso antes. Por causa da seca que atinge a região desde janeiro, os peixes não conseguiram se reproduzir e se refugiaram nas partes mais fundas. No período da Piracema, quando os peixes se reproduzem, a pesca é proibida de novembro a março.
O Cepta explicou ainda que, com a seca, os peixes adultos foram pescados com mais facilidade logo depois do período de reprodução. “O problema foi agravado ainda mais, porque, além de não ter a desova, os peixes que nasceriam este ano demoram de dois a três anos para se tornarem adultos reprodutores. Isso não aconteceu e causou um grande prejuízo”, explicou o analista ambiental do Cepta/ Icmbio, Paulo Sérgio Ceccarelli.
Segundo o analista, outro agravante é que o período real de reprodução terminou só agora, quase 60 dias depois do fim da piracema. O problema no rio Mogi Guaçu é o mesmo de outros rios do Estado que têm os reflexos da seca.
A perda de reprodutores prejudica todo o ecossistema. “Um organismo depende do outro. Para se ter um ideia, a extinção de uma espécie de peixe faz outras 10 espécies desaparecerem”, contou Ceccarelli.
A tendência é de menos chuva, o que preocupa ainda mais quem depende do rio, já que a situação pode piorar. “Isso vai levar, pelo menos de 3 a 4 anos para recuperar e isso se as condições dos próximos anos forem ideais, porque, se tiver mais uma catástrofe como essa, vai ficar muito difícil de recuperar esse rio.
Prorrogação da piracema
Por causa da seca, o Cepta chegou a pedir no começo do ano a prorrogação da época da piracema para alguns rios como o Mogi Guaçu, mas a soliticação não foi atendida.
Segundo o coordenadordo Cepta, Antônio Fernando Bruni Lucas, a ideia da prorrogação era permitir que os peixes presos nos bolsões se reproduzissem e não sofressem a pressão da pesca.
A piracema é regulada por lei Federal e para a próxima época de desova, por enquanto, não há nenhuma previsão de um novo pedido, já que isso depende das condições dos rios.
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