Extinção de espécies está mil vezes mais veloz do que se imaginava
A ação humana acelerou em mil vezes a extinção de espécies, de acordo com um estudo publicado esta semana na revista “Science”. Novas tecnologias para mapear o desmatamento e a destruição de habitats permitiram uma revisão dos números que serviam como base para encontros internacionais, como a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD).
Se não houver ações urgentes, o impacto provocado pelo homem no meio ambiente causaria a sexta maior extinção em massa da História do planeta — uma das anteriores foi o desaparecimento dos dinossauros.
Não é simples estimar quantas espécies foram extintas desde o início do século XX, já que, segundo estimativas, apenas 3,6% delas são conhecidas pelos cientistas. Para calcular a velocidade das extinções, os cientistas criaram um modelo matemático levando em conta o percentual de desaparição das espécies conhecidas em relação a sua população total e extrapolaram os resultados.
O estudo defende que a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas seja radicalmente ampliada — a publicação abrigaria 160 mil espécies que correm o risco de extinção, em vez de 70 mil, como ocorre hoje. Esta atualização da listagem pode levar à criação de novas políticas de conservação ambiental.
— Hoje temos novas tecnologias para detectar o desmatamento e analisar o deslocamento de cada espécie — avalia Clinton Jones, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Pesquisas Ecológicas do Brasil (Ipê). — A maioria vive fora das áreas protegidas, por isso a compreensão da mudança de seus ecossistemas é vital. É uma oportunidade para atualizar mapas sobre os impactos e as ameaças a cada área.
Coautor do levantamento, Stuart Limm, professor de Ecologia de Conservação da Universidade de Duke (EUA), ressalta que ainda existe uma “cratera” entre o que os pesquisadores sabem e o que ignoram sobre a biodiversidade do planeta. A tecnologia, no entanto, está preenchendo este espaço, além de estender o acesso a dados científicos para amadores. Bancos de dados on-line e até aplicativos de smartphones facilitam a identificação de espécies.
— Quando combinamos informações sobre o uso da terra com as observações de milhões de cientistas amadores, conseguimos acompanhar melhor a biodiversidade e suas ameaças — assinala. — No entanto, precisamos desenvolver tecnologias ainda mais sofisticadas para sabermos qual é a taxa de extinção das espécies.
Espaço restrito
O homem eliminou os principais predadores e outras grandes espécies. As savanas africanas, por exemplo, já cobriram 13,5 milhões de km². Agora, os leões dispõem de somente 1 milhão de km². Trata-se de um exemplo de como a restrição do espaço colabora para as extinções.
— Sabemos que muitas espécies terrestres ocupam pequenas áreas, algumas menores do que o Estado do Rio. — alerta Jones. — Espécies distribuídas em pequenas regiões estão mais vulneráveis à extinção. Precisamos concentrar nossos projetos de conservação nestes locais.
Um dos pontos mais críticos é a Mata Atlântica, uma das 34 regiões do planeta onde há maior número de espécies exclusivas — ou seja, aquelas que só ocorrem naquele local — enfrentando risco de extinção.
— A floresta remanescente está degradada e há muitas espécies exclusivas em todos os seus ambientes, do solo às montanhas — destaca Jones. — Sua preservação deve ser uma prioridade mundial.
Os oceanos são ainda menos preservados. Somente 2% de suas espécies seriam conhecidas.
Você precisa fazer login para comentar.