Trutas sendo vendidas como salmão, mussarela de búfala produzida com leite de vaca e até remédios sem o princípio ativo que consta na embalagem são fraudes que antes passavam despercebidas pelo governo e consumidores, mas hoje são descobertas com o uso de testes de DNA. Fundada pelo biólogo Daniel Cardoso de Carvalho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a startup brasileira Myleus Biotechnology atua como uma detetive de alimentos, ajudando a evitar fraudes e até a salvar espécies ameaçadas.
O DNA Barcode, também chamado de “código de barras da vida”, é utilizado desde 2003, quando um grupo de pesquisadores canadenses provou que basta um único gene para diferenciar a maioria dos animais. A técnica funciona com o sequenciamento parcial de um pequeno segmento do DNA utilizado para comparar diferentes espécies.
“Se você extrair o DNA de um determinado peixe à venda no mercado, consegue descobrir se está mesmo comprando um bacalhau ou se trata de uma outra espécie”, explica Marcela Gonçalves Drummond, bióloga e presidente da startup. É possível saber também qual o tipo de carne usado em um hambúrguer ou numa lasanha. “A pesquisa pode ser feita no supermercado, no restaurante e até depois que o alimento já foi frito ou cozido”.
Em 2010, uma investigação da Myleus levou à apreensão de uma carga de peixe dourado, espécie originária da bacia do Rio São Francisco cuja pesca é considerada predatória. O pescador alegava que os peixes eram da bacia do Rio Paraguai. Os pesquisadores da startup também já identificaram bacalhau, merluza, salmão e traíra falsos.
Casos mais graves envolvem fitoterápicos, remédios produzidos à base de plantas. Amostras da Maytenu silicifolia (espinheira santa), usada para problemas gastrointestinais, foram substituídas pela Zollernia ilicifolia, conhecida como falsa espinheira. O mesmo ocorreu com a Passiflora incarnata, nome científico do maracujá, considerado um calmante, trocado por outras espécies.
Criada em 2009, a startup passou pela Inova, a incubadora de empresas da UFMG. Está prevista para este ano a mudança para um laboratório próprio com o investimento de R$ 500 mil do fundo ligado à Fundep, gestora de projetos da universidade.