A morte de 40 toneladas de peixes após a água do rio Tietê, no trecho de Salto (SP), aparecer com a cor preta irá afetar a Piracema, o período de migração dos peixes rio acima para a reprodução, de acordo com o biólogo e professor acadêmico Welber Smith. “Na verdade, vai prejudicar a reprodução e recrutamento de novos indíviduos, ou seja, a população principalmente da espécie Prochilodus lineatus (curimbatá), que foi reduzida e muito”, explica.
No último fim de semana, a Prefeitura de Salto retirou do córrego do Ajudante, que deságua no rio Tietê, as 40 toneldas de peixes mortos, predominante da espécie curimbatá, e encaminharam ao aterro sanitário da cidade. “Pela Piracema gerar o encontro dos individuos e concentrá-los em determinados locais, isso sem dúvida aumentou o impacto na população, aumentou a mortandade. Afinal, são 40 toneladas de peixe, 40 mil indivíduos da espécie, que é migradora, típica do Tietê, que provavelmente foi a primeira espécie que começou subir o rio”.
Além do prejuízo ecológico para as espécies envolvidas, Smith ainda frisa que a morte de 40 toneladas de peixes curimbatá por conta da “água preta” também prejudicou outras espécies. “Eles servem de alimento para outros, controlam populações de outros organismos ou seja toda uma comunidade biológica sofrerá as consequências, reduzindo a população de umas e aumentando de outras”, citou Smith que também acredita que a pesca possa ser prejudicada.
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) diz que o fenômeno da água preta foi provocado por resíduos que estavam acumulados no solo e no leito do rio, trazidos à tona com as chuvas que atingiram a região. Na tentativa de buscar oxigênio em água limpa, os peixes migraram para o córrego do Ajudante, afluente do rio Tietê, com aproximadamente um quilômetro de extensão, mas não conseguiram sobreviver.
Por outro lado, Smith acredita que existem outras hipóteses para explicar o que aconteceu no rio. “Existem indícios de que essa mancha, essa contaminação, vinha desde Santana do Parnaíba, vinha descendo o rio Tietê e o cardume a encontrou. Então, a Cetesb precisa apurar de onde veio, se teve uma poluição pontual ou se teve um fenômeno, que não é natural, que aconteceu no rio Tietê”, levantou a questão o biólogo.
Casos semelhantes
O biólogo lembra que, nos anos 2000, um caso em uma escala ainda maior atingiu o Rio Pardo. “Na época, vinhaça de uma usina de cana vazou, matando tudo por centenas de quilômetros. Esse foi um dos casos mais graves que eu conheço no Estado de São Paulo”, relembra.
Smith acredita que a morte dos peixes em Salto seja a maior da região. “Ocorrem casos isolados de pequena monta causado por um lançamento ou outro e pela falta de oxigênio, mas esse é o maior na região”, finaliza o biólogo.
Portal G1