O baixo nível da represa de Três Marias afeta diretamente a vazão do rio São Francisco e preocupa quem depende da água para tirar o sustento. Ribeirinhos afirmam que essa é a pior seca em 100 anos. A estiagem derrubou a ocupação das pousadas da região, aumentou a mortandade dos peixes em cativeiro e também assustou quem depende da pesca no habitat natural.
O prefeito de Três Marias, Vicente Rezende (PMDB), disse que houve redução de 70% no número de turistas na cidade, o que afeta diretamente toda a economia da região. “O turismo é muito importante para nossas finanças e a redução nessa área afeta toda uma cadeia, como o comércio e serviços”, afirmou. Apesar de não haver problemas de abastecimento na área urbana, a zona rural sofre com a falta de água. “Nunca chegamos nesse ponto. Temos apenas dois caminhões-pipa para atender as comunidades. E água suficiente só para matar a sede”, contou.
A seca também traz prejuízos aos produtores de peixes, uma das principais fontes de renda do município. A secretária de Meio Ambiente, Adriana Aragão, explicou que grandes áreas na represa, onde havia a criação de tilápias, tiveram que ser desativadas por causa do baixo nível da represa, e afirmou que a criação que sobrou sofre com o alto índice de mortandade. “Aproximadamente 25% dos peixes morreram”, contou.
Pescadores. A preocupação para quem cria peixe em cativeiro também existe para quem depende dos peixes soltos na natureza para sobreviver. Esse e o caso de Norberto dos Santos, 66, um dos mais antigos pescadores da região e profundo conhecedor do rio São Francisco. Ele explica que agora a pesca está proibida em função da piracema, mas prevê tempos difíceis a partir de março, quando volta a liberação.
“Os peixes não reproduzem no rio São Francisco. Os filhotes nascem todos nos afluentes. Como a vazão dos afluentes está muito baixa, esses peixes não vão chegar até aqui e teremos dificuldades”, afirma Santos. Ele também tem uma pousada na região, que está bem mais vazia em função da seca.
Norberto Santos diz que nunca viu o rio tão baixo. Isso só teria acontecido em 1915. “Nesse ano, o rio Pará e o rio Paraopeba teriam chegado a secar. Depois, tivemos grandes secas nos anos de 1963,1978, 2000 e 2001, mas nenhuma como esta agora”, afirmou. Apesar da situação atual, ele crê que haverá água nos próximos anos.
Jornal O Tempo