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Fenômeno faz com que rios amazônicos não sequem o esperado

img_kalua_amazoniaNos últimos dois anos, os rios da bacia hidrográfica amazônica não secaram aquilo que era esperado para garantir que as mudanças climáticas não atrapalhassem o modo de vida e produção das comunidades ribeirinhas. O secretário-adjunto da Defesa Civil do Amazonas, Hermógenes Rabelo, classifica esse fenômeno como anormal e não descarta a repetição do mesmo em 2015.

Hermógenes destacou que uma das justificativas para que o ciclo da seca não se complete são as chuvas que atingem o Norte da Bolívia, a encosta oriental do Andes, no Peru, e no Sul da Colômbia. “Nós não tivemos uma seca, os rios continuaram cheios. Os grandes lagos funcionam como ‘piscinões’ para equilibrar a subida e descida, como eles não secaram, quando a água que vem lá da nascente descer, ela não tem para onde ir”, explicou Hermógenes.

Exemplos
Entre os exemplos que podem ser citados, estão as dificuldades na pesca das espécies que dependem da seca para serem realizadas. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus (RDS-PP), em 2014, o fenômeno atrapalhou a pesca manejada do pirarucu e do acará-disco, peixe ornamental que é alternativa para geração de renda de pescadores na região. Ambas atividades acontecem com o apoio do Instituto Piagaçu (IPi), que atua no Baixo Purus há 10 anos. Atualmente o nível da água na região chega a 18 metros.

 Cheia do Rio Madeira - AmazoniaO pescador Irailton Bastos, que atua na pesca manejada do pirarucu na comunidade Itapuru, na RDS-PP, conta que no ano passado a pesca foi prejudicada. “Temos que nos adaptar, arranjar alternativas para driblar essa dificuldade. Com os lagos cheios, fica mais difícil contar, monitorar e, principalmente, pescar”. Segundo ele, uma das formas que a comunidade encontrou para poder alcançar a meta da pesca é fechar as áreas conhecidas como boca dos lagos com cerca.

Em 2015, a comunidade em que ele atua espera conseguir, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) autorização para a pesca de 600 pirarucus no fim do ano. “Se conseguirmos autorização vamos depender apenas do nível da água para conseguir atingir essa meta”, explica.

Em 2014, a pesca do acará disco não foi realizada. Pescador da espécie, Mário Pereira de Souza, 47, conta que não é possível conseguir o peixe sem que a água do rio desça. “Desde que começamos o trabalho da pesca do acará essa foi a primeira vez que não conseguimos por causa da água. Ele só aparece na seca”, conta.

Cheia dos rios na AmazoniaMorando há 25 anos na comunidade do Uixi, ainda na RDS–PP, Rocky Protássio, 56, também investe na produção de farinha, na coleta da castanha para venda e assim espera não depender apenas da pesca. “O melhor período e o que podemos pescar para venda é justamente a seca. Mas não tem seca como tinha antes. A gente fica esperando e acaba se arriscando mesmo assim, como é o caso do pirarucu”, lembra.

Enchente
Na calha do Purus, quatro cidades decretaram situação de emergência: Canutama, Carauari, Pauiní, Lábrea e Tapauá. Boca do Acre é o único município do Amazonas a entrar em calamidade pública.

População começa a deixar a cidade
A Prefeitura de Boca do Acre, município distante 1.028 quilômetros de Manaus, estima que mais de 200 famílias deixaram a cidade nas últimas semanas em direção a Rio Branco (AC). Oito dos nove bairros da cidade estão inundados.

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