Acidente na Ultracargo já atinge a pesca em Cubatão-SP
A apreensão quanto à possibilidade de contaminação dos pescados capturados na região, após a explosão dos tanques de combustíveis da Ultracargo, no Polo Industrial da Alemoa, em Santos, acabou com as principais fontes de renda e subsistência dos profissionais da pesca que moram na Vila dos Pescadores, em Cubatão.
Já prejudicados pelo Decreto Estadual nº 60.133, que proíbe a captura e venda dos caranguejos-uçás, eles agora ficaram sem as outras alternativas que tinham.
Embora não haja uma proibição no que se refere à pesca e comercialização das demais espécies (o que caberia somente aos órgãos ambientais), a simples desconfiança da população, somada à incerteza dos próprios pecadores em relação à qualidade do pescado hoje, impôs um período de férias forçadas a todo setor – e sem previsão de retorno.
Somente na Vila dos Pescadores, há cerca de 120 famílias nessa situação. É o caso de Andreia dos Santos Ferreira, de 42 anos, e de seu marido. “Por enquanto, a gente está se virando com um dinheirinho que tem guardado e com os peixes congelados, que foram pescados dias antes. A nossa grande preocupação é com o que virá. Como a gente vai ficar daqui a mais uma semana, um mês? Se já tem gente passando necessidade agora, imagine depois?”.
Ontem, acompanhada de outros pescadores, ela foi recebida no gabinete da prefeita Márcia Rosa e manifestou esta preocupação a representantes do Ministério da Pesca e da própria Administração cubatense.
Durante duas horas, foram discutidas formas de reduzir os prejuízos acumulados desde o início do incêndio. Só que nenhum resultado prático foi anunciado.
Apesar de o Ministério da Pesca sinalizar para a possibilidade de liberação de auxílios financeiros, isso não foi confirmado. E, mesmo que fosse, já é certo que muitos pescadores ficariam de fora, pois a informalidade ainda atinge boa parte desses profissionais.
“Infelizmente, nem todos possuem registro”, admite a líder comunitária e presidente da associação de pescadores do bairro, Marly Vicente.
Os produtos químicos que começaram a ser utilizados ontem no combate ao fogo – o pó branco importado chamado de F500 – também são motivos de preocupação para a prefeita de Cubatão.
“Meu medo é que isso possa aumentar ainda mais o comprometimento das águas. No caso da Vila dos Pescadores, elas passam debaixo dos barracos, o que pode causar transbordamentos e até mesmo riscos de explosões”.
Críticas
Márcia Rosa voltou a criticar a postura da Cetesb e do gabinete de crise criado pelo Governo do Estado, no que se refere à prestação de informações sobre o caso. “É uma situação absurda. Até agora não recebi qualquer relatório da Cetesb a respeito. Nem mesmo sobre o tal plano de evacuação que tanto se falou nesses últimos dias. A desinformação ainda é muito grande”.
A prefeita também defendeu que a Ultracargo indenize as comunidades prejudicadas pelo incêndio. “Se ela tem dinheiro para bancar um seguro de mais de R$ 550 milhões, também deve ter só para reparar os danos ambientais que causou. Não é o Poder Público que tem de arcar com isso”.
A mesma tese também foi defendida pelo coordenador de Pesca Artesanal Marinha, do Ministério da Pesca, Josué Bezerra. “O dinheiro desse seguro pode também ser usado para reparar esses danos. Por isso é importante a participação do Ibama nesse processo”, cobrou ele, acrescentando que o mesmo vale em relação à necessidade de proibição, ou não, da captura e comercialização de pescados.
“O Ministério da Pesca, assim como a Prefeitura, só pode alertar, orientar. Só mesmo o Ibama ou a Cetesb, que são órgãos ambientais, é que podem proibir qualquer coisa nesse sentido”, esclareceu Bezerra.
A Tribuna
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