O incêndio que atingiu o Terminal Industrial da Ultracargo, na Alemoa, em Santos, impactou 142 espécies de peixes, conforme levantamento divulgado nesta quinta-feira (23) pelo Laboratório de Pesquisas Biológicas do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
A causa mais provável para a mortandade de cerca de 8 toneladas de peixes ainda não foi determinada. Estima-se que esteja relacionada à elevação da temperatura, que reduziu drasticamente o oxigênio da água.
Desde 18 de abril, foram localizadas no Estuário 64 novas espécies, das quais não se tinha conhecimento científico até 2012. Na primeira fase do levantamento, além das 78 espécies catalogadas outras 38 foram identificadas pelo laboratório. Já na quarta-feira (22), após novas pesquisas, constatou-se que o número de espécies impactadas na região subiu para 142.
Para o biólogo Matheus Rotundo, coordenador do Laboratório de Pesquisas da Unisanta, o desastre ecológico provocado pelo incêndio trouxe, de maneira triste, maior conhecimento para os estudiosos na região.
O biólogo informa ter recebido de pescadores, no último fim de semana, outra remessa de peixes mortos e, após examiná-los e catalogá-los durante o feriado e o último fim de semana, concluiu que a soma de espécies atingidas é ainda maior do que se imaginava no último dia 18 de abril.
“E algumas delas são espécies invasoras, que podem prejudicar a fauna natural da região. Dentre elas, o Opsanus beta (peixe-sapo), que se distribui originalmente no Golfo do México, de Belize até Palm Beach, na Flórida.”
O trabalho conjunto com os pescadores é feito pela Unisanta há cerca de 20 anos, por meio do projeto Pró-pesca – Pescando o Conhecimento. Na quarta-feira (22), pescadores do Canal de Bertioga e de Guarujá, que também capturam pescado nos locais afetados pelo incêndio, em Santos e Cubatão, entraram em contato com a equipe da universidade, para que fosse analisado o novo material coletado.
“Após três dias consecutivos de análises, o número de espécies impactadas aumentou 22%, ou seja, de 116 (conhecidas até 18 de abril), para 142. Aumentou também os números de ordens (de 19 para 20) e de famílias (de 48 para 54).” Entre as espécies registradas nesta semana há peixes-morcegos, enguias e manjubas.
Quanto às essas espécies vistas na região, é possível que elas já existissem por aqui, mas não eram capturadas no Estuário pelos tipos de redes de pescadores artesanais, segundo o biólogo.
Ameaças de extinção
Matheus Rotundo afirma que aumentou também o número de espécies pertencentes à lista nacional de animais ameaçados de extinção (Portarias MMA Nº 444 e 445/2014), na qual foi incluída o Megalops atlanticus (Tarpom), na categoria vulnerável. Em nível estadual, seguindo o Decreto Nº 60133 de 07/02/2014, o número de espécies também cresceu, passando de 12 para 15 espécies quase ameaçadas.
De acordo com Rotundo, subiu de 11 para 12 as espécies que possuem necessidade de diretrizes de gestão e ordenamento pesqueiro para sua conservação, e de 36 para 42 as espécies sobre as quais não se possui informação suficiente para análise do seu grau de conservação.
Sem valor comercial
A maior parte das espécies que foram analisadas neste último final de semana, são possuem valor comercial, porém é grande sua importância biológica. Com os novos resultados, as espécies que não possuem valor comercial (54,22%) reverteram o quadro anterior, onde correspondiam a 42%.
Segundo Rotundo, a lista de espécies afetadas ainda pode aumentar, pois parte do material examinado não apresentava condições para uma identificação precisa. Nesses casos, amostras de tecidos foram coletadas para identificação molecular (DNA).
Jornal A Tribuna