A pesca ilegal e o arrasto industrial – que leva ao descarte de milhões de peixes – formam uma dupla quase letal que ameaça a sustentabilidade pesqueira mundial e atinge a preservação marinha, concordaram nesta terça-feira, no Chile, especialistas durante a conferência Our Ocean.
Com um diagnóstico dividido que chama de alarmante a situação dos oceanos devido à perda da diversidade marinha, contaminação e acidificação das águas, especialistas e autoridades que participaram desta reunião em Viña del Mar debateram fórmulas para fazer da pesca uma atividade mais sustentável. A conferência, que termina nesta terça-feira, é considerada a antessala da Cúpula do Clima de Paris (COP21), em dezembro.
Na linha de proteção dos oceanos, os Estados Unidos lançaram na segunda-feira uma iniciativa global de vigilância para o controle da pesca ilegal, que busca detectar com o uso de novas tecnologias os principais focos de captura. “O problema do descarte é equivalente à pesca ilegal. A super exploração é em grande parte resultado do descarte mais a pesca ilegal, sem esquecer que se ignoram critérios científicos e se explora acima das cotas recomendadas”, explicou à AFP Juan Vilata, da organização ambiental WWF Chile.
Para Renato Quiñones, professor da Universidade de Concepción do Chile, está claro que a “sustentabilidade pesqueira mundial está passando por um momento complexo, difícil”, que ameaça centenas de espécies, especialmente as de maior valor econômico, como a merluza no Chile e variedades de atum em outros países.
A pesca excessiva, a contaminação e a mudança climática reduziram pela metade desde os anos 1970 as populações de animais marinhos, incluindo mamíferos, aves, répteis e peixes. Um problema se considerarmos que cerca de 15% do abastecimento mundial de proteína animal procede do mar, segundo estimativas fornecidas por várias organizações ambientalistas.
Criar consciência entre os pescadores artesanais sobre as virtudes de uma pesca que respeite o meio ambiente e conseguir controles rígidos que mantenham dentro das cotas sustentáveis a pesca industrial parece ser a receita para conseguir uma melhora na saúde das águas.
Proteger os oceanos
“Nunca foi tão difícil atuarmos, preservarmos e protegermos nossos recursos marinhos”, lançou nesta terça-feira Arnold J. Nicholson, ministro das Relações Exteriores da Jamaica, destacando que a super exploração pesqueira é apenas um dos flagelos enfrentados pelos oceanos.
A contaminação por plástico – com a presença em águas remotas de imponentes ‘ilhas’ deste material – e a acidificação do oceano – uma mudança no PH marinho devido ao aquecimento global – também foram apontados na conferência como parte do problema.
Mas longe de ficar no diagnóstico, a segunda edição da conferência “Our Ocean” foi cenário para o anúncio de novas áreas de proteção marinha. O Chile comprometeu-se a criar duas novas áreas protegidas: uma na emblemática Ilha de Páscoa, e outra no parque marinho de Nazca-Desventuradas, nos arredores do arquipélago de Juan Fernández.
Ao ser totalmente concretizada, já que no caso da Ilha de Páscoa o povo Rapa Nui deve aprovar em consulta popular a iniciativa, o Chile completará uma superfície total de mais de um milhão quilômetros quadrados, uma das maiores do mundo, e contribuiria para a meta global de chegar em cinco anos a cobrir com reservas cerca de 10% da superfície marinha global.
Os Estados Unidos, líder da conferência, fez o anúncio da criação de dois novos santuários marinhos, os primeiros desde 2011. Além disso, o secretário de Estado, John Kerry, adiantou que Estados Unidos e Cuba debatem um acordo de áreas protegidas irmãs.
Dezenas de convênios de cooperação entre países, academia e sociedade civil fazem parte dos sucessos desta conferência, a segunda celebrada após a de 2014 em Washington, liderada por Kerry.
Swissinfo.ch