As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau estão despreparadas para as possíveis grandes enchentes dos próximos anos na Amazônia e as consequências para a região e sua população são imprevisíveis por falta de estudos adequados à instabilidade climática da área.
A conclusão foi feita, ontem, durante a audiência pública “Impactos ambientais da instalação das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau na calha do Madeira”, proposta pelo deputado estadual Dermilson Chagas (PDT-AM), que promete levar denúncia ao Ministério Público Federal (MPF).
O parlamentar destacou a urgência de medidas que tentem minimizar os prejuízos de ordem social, ambiental e econômica que os municípios da calha do Madeira já estão sofrendo. Na região, moram aproximadamente 200 mil pessoas.
De acordo com o doutor em Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, a falta de uma avaliação séria antes da obra colocou as barragens sob risco de rompimento. O pesquisador explica que os estudos para a construção das hidrelétricas previam apenas as cheias anteriores e não levaram em consideração as mudanças climáticas previstas para o futuro.
“A previsão de mudanças climáticas é de que haverá mais enchentes grandes. O problema é que as usinas foram desenhadas nas enchentes passadas. Na enchente de 2014, chegou no limite. Então, há o risco de que elas não aguentem e se rompam podendo haver uma tragédia em Porto Velho. O vertedouro (servem para escoar água em excesso que chega ao reservatório durante o período chuva) das usinas não tem capacidade para grandes enchentes no futuro”.
Philip Fearnside afirmou ainda que as barragens ao longo do rio Madeira prejudicam a pesca porque diminuíram a quantidade de sedimentos na bacia, o que interfere diretamente na cadeia alimentar dos peixes. Ele fez críticas ao sistema que deveria garantir a migração dos grandes bagres, peixes de valor comercial importante para a região.
“Simplesmente a migração dos peixes foi prejudicada. Os peixes não entraram na avaliação da estrutura feita pelas usinas. Em um caso, o canal construído para que os peixes atravessem as barragens vai parar em um tanque de cimento e daí os peixes são transportados até o lago natural, ou seja, não há migração. Nas várzeas, abaixo das usinas, a barragem enfraquece o pico da enchente e assim diminui o fluxo de nutrientes para os lagos, o que prejudica a pesca já que a mudança interfere na cadeia alimentar dos peixes”, explicou.
O pesquisador demonstrou preocupação com os estudos que podem resultar na construção de novas barragens na Amazônia brasileira e peruana.
Jornal A Critica