Curimba volta ao canal da piracema em Itaipú após 6 anos
Um curimba voltou a passar pelo Canal da Piracema quase seis anos após ser solto. O mais recente registro do peixe na Itaipu aconteceu no último dia 15 de janeiro, às 18h, na estação do dique de regulagem, na entrada do canal. Ele havia sido solto no fim de 2010, após marcação com um receptor, e, alguns dias depois, em 30 de outubro daquele ano, foi registrado saindo do canal. Os seis anos de intervalo entre a saída e retorno são um recorde nos registros da Divisão de Reservatório.
“Ficamos surpresos com o tempo que passou de um registro para o outro. Tem casos de o peixe passar várias vezes na tomada d’água, mas em um espaço de poucos dias. Esta diferença de seis anos é um recorde”, disse a bióloga Caroline Henn, da Divisão de Reservatório da Itaipu. “Você imagina como é grande o reservatório e, depois de tanto tampo, o peixe conseguir encontrar a entrada do canal novamente.”
Como o sistema mede apenas a posição pontual, não se sabe se o peixe estava entrando ou saindo do canal, embora o primeiro caso seja o mais provável. “Ele pode ter descido pelas turbinas de Itaipu, chegado ao Rio e estar subindo o Canal da Piracema novamente. Já se sabe que algumas espécies, como o pacu, o armado e o curimba, sobrevivem à passagem pelas turbinas”, teoriza Caroline. “Mas o mais provável mesmo é que tenha vindo do reservatório.”
O registro do curimba foi feito pelo sistema de pit-telemetria, que capta a passagem dos peixes em quatro pontos do Canal da Piracema. Para isso, o peixe é marcado com um receptor, o pit-tag, que é introduzido por uma pequena incisão na região abdominal. Quando ele passa pela antena, o sistema registra o código do pit-tag e envia para um receptor que armazena a informação. Em 2015, este sistema foi modernizado, tornando mais fácil o registro.
Estas informações comprovam a eficácia do sistema de transposição de peixes de Itaipu e servem de modelo para outros empreendimentos hidrelétricos. “Os dados de deslocamento dos peixes já estão orientando, inclusive, medidas para melhoria do próprio Canal”, explica Caroline. Foi registrado, por exemplo, a dificuldade de os peixes transporem alguns trechos do sistema, o que demandou um projeto de reforma, que será coordenado pela Diretoria Técnica.
Desde que Itaipu começou a marcar peixes com esta técnica, em 2009, 2.215 animais receberam a marca eletrônica do tipo pit-tag. Deste total, foram feitos 462 registros do animal passando por um dos quatro pontos no canal. Outra marcação, esta externa e visível, é feita desde 1997 e carrega uma cápsula com um número de telefone para os pescadores ligarem quando capturarem o peixe. Esta marca externa já foi feita em 47.255 peixes.
Espécie viajante
Pelos dados do sistema, é possível mapear o movimento dos peixes e entender o perfil das diferentes espécies. O curimba, por exemplo, é uma espécie rápida, que consegue transpor o sistema com facilidade. “Ela é a espécie mais abundante na pesca do reservatório e é também encontrada em forma de cardumes no canal”, explica Caroline.
O curimba é uma espécie robusta e viajante – pode nadar 1.200 km em uma única estação reprodutiva. No reservatório de Itaipu, ela chega a atingir 74 cm (fêmeas) e 62 cm (machos) e viver mais de 13 anos. O exemplar marcado em 2010 media 44 cm e tinha entre 5 e 6 anos. Estima-se, portanto, que em sua volta ao canal, esta senhora curimba esteja com 11 a 12 anos. Talvez queira passar o fim da vida na proteção de casa.
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