Nemo e Dory – Aumento da procura coloca em risco as espécies dos icônicos filmes da Disney
O filme Procurando Nemo tem uma importante mensagem de conservação – a de não tirar os peixes de seus hábitats. Para a surpresa de pesquisadores australianos, no entanto, o lançamento do filme, em 2003, resultou num boom na compra dos carismáticos peixe-palhaço (Nemo) e cirurgião-patela (Dory). A procura por esses pets aumentou 40%.
O problema é que só uma quantidade muito pequena de “Nemos” é criada em aquário e nenhuma “Dory” até hoje pôde ser reproduzida em cativeiro. Ou seja, ao comprar esses peixes, os espectadores estavam exatamente tirando os peixes de suas casas, como no filme.
A sobrepesca do peixe-palhaço fez pesquisadores das universidades de Queensland e Flinders, ambas na Austrália, criar uma organização para estudar e proteger os peixes de recifes de corais. Batizada de Saving Nemo Conservation Fund, eles tentam melhorar as téncicas de reprodução em cativeiro dos peixes e conscientizar as pessoas para não comprar peixes coletados do mar. Agora, eles estão preocupados com o lançamento do mais novo filme da Disney, Procurando Dory.
A bióloga Karen Burke da Silva, da Universidade de Flinders explicou as principais ameaças que os peixes de recifes de corais enfrentam. “Estamos tentando educar as pessoas para ter certeza de que elas saibam de onde vem o peixe antes de comprar um, e entender os efeitos da sobrepesca no oceano.”
ÉPOCA – O filme Procurando Nemo tem uma mensagem de conservação, de que não devemos tirar os peixes do oceano. Ainda assim, foi necessário criar uma organização para proteger o peixe-palhaço. O que aconteceu? Os espectadores não entenderam a mensagem?
Karen Burke da Silva – Depois do lançamento de Procurando Nemo, a demanda pelo peixe-palhaço aumentou 40%. Não é que as pessoas que viram o filme não captaram a mensagem, mas se apaixonaram pelo lindo e carismático peixe-palhaço e quiseram ter seus próprios pets.
Eu entrevistei algumas dessas pessoas para uma pesquisa. A maior parte não percebeu – ou sequer pensou sobre – de onde vem o peixe. Muitos pensavam que esses peixes eram criados em cativeiro. Quando disse que só 5% dos peixes de aquário marinhos são criados em cativeiro e que o restante é tirado do mar, eles ficaram chocados.
ÉPOCA – Por que só 5%? Não tem como criar esses peixes em aquários?
Karen – O peixe-palhaço já pode ser facilmente criado em cativeiro. Mas nós ainda não somos capazes de criar o cirurgião-patela. Isso significa que 100% dos peixes “Dory” que estão hoje em aquários foram tirados do mar. Dory enfrenta uma pressão muito maior da sobrepesca. Alguns laboratórios estão atualmente tentando reproduzir o cirurgião-patela, e nós acreditamos que isso deva ser resolvido em breve.
No momento atual, já conseguimos produzir ovos e as larvas crescem durante algumas semanas, mas depois morrem. Nessa fase eles são muito pequenos, conseguir comida pequena o suficiente é um problema. Nós vamos tentar alguns tipos diferentes de alimento e esperamos conseguir fazê-las crescer até peixes juvenis, que podem ser vendidos para pet shops.
Revista Época
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