Insegurança nas águas mobiliza esforço de policiamento na Baixada Santista
Representantes das polícias Federal, Civil e Militar na região e da Marinha do Brasil definiram que serão feitas operações em conjunto para prender bandidos que atacam embarcações de pequeno e médio portes na Baixada Santista. Apesar de as autoridades alegarem que há poucos registros desse tipo de crime na região, pessoas ligadas à pesca profissional e amadora reclamam dos perigos de se navegar por rios e mares da Baixada a trabalho ou a lazer.
O planejamento começou a ser definido na última terça-feira (27), depois de um debate no Instituto de Pesca. Embora os donos de embarcações e pessoas ligadas a atividades no mar digam que os ataques são constantes, os poucos Bos registrados pelas vítimas atrapalham ações contra os criminosos.
Segundo a Polícia Civil, este ano foram registrados 24 crimes contra embarcações na Baixada Santista e Vale do Ribeira, sendo 14 roubos e 10 furtos. Seis deles foram esclarecidos. A falta de contingente também impede o combate à ação de piratas, de acordo com as autoridades.
“Não temos condições de colocar policiais na água. A carência de homens é muito grande”, resumiu Gaetano Vergine, comandante da Polícia Civil na Baixada Santista e Vale do Ribeira (Deinter 6).
Já a Polícia Federal, a quem cabe o patrulhamento das águas, informa que tem quatro embarcações para realizar o trabalho, sendo três delas mais velozes para fazer abordagens. “Nem sempre todas elas estão ocupadas por falta de efetivo. A gente consegue navegar com duas ou três e esse patrulhamento não é constante”, afirma o delegado Ciro Moraes, chefe do Núcleo Especial de Polícia Marítima.
Entre os motivos apontados pelas vítimas para não fazer a queixa estão a demora para se elaborar um BO e o medo de sofrer represália dos piratas modernos, que chegam em embarcações velozes para roubar molinetes, varas, GPS, celulares e até mesmo o motor de popa e o próprio barco. Esse material depois é vendido no mercado negro ou negociado com a própria vítima.
“Os assaltantes coagem o pescador para que ele não faça queixa. Eles (criminosos) ficam com os documentos pessoais e do barco e sabem onde aquela pessoa mora”, justifica Adalberto de Oliveira Filho, presidente da Federação Paulista de Pesca Esportiva.
Insegurança preocupa
Pesquisador do Instituto de Pesca, Sergio Tutui, diz que as equipes frequentemente mudam a rotina de pesquisas com medo dos bandidos. Eles precisam coletar amostras de água e fauna ao longo do Canal do Estuário. Quando esse trabalho tem de ser feito em locais sabidamente perigosos, eles preferem realizar as coletas de manhã bem cedo, momento em que teoricamente os bandidos não atacam.
“Os piloteiros conhecem os lugares mais perigosos. Nossa preocupação é com as pessoas e com os equipamentos de pesquisa. Temos alguns que são extremamente caros”, revela Tutui.
Dona de uma marina em São Vicente, Lirian de Lima diz que os assaltos a embarcações estão prejudicando os negócios em toda a região. Quem trabalha no setor está perdendo clientes por causa da insegurança no mar. Segundo ela, ninguém está a salvo. Os bandidos abordam lanchas, barcos com motor de popa e até mesmo praticantes de stand up paddle, para levar a prancha. A empresária aponta trechos de São Vicente e o Casqueiro, em Cubatão, como locais que devem ser evitados.
“Eles já vêm com arma em punho e identificam quando são turistas porque estão todos a caráter. Eles levam a embarcação e deixam a pessoa dentro d’água, lamenta Lirian”.
Com medo de se identificar, um guia de pesca esportiva, que trabalha levando turistas para pescar na região, conta que vários colegas já foram vítimas dos bandidos, principalmente no Canal de Bertioga.
“A gente sempre nota à beira do rio alguns casebres suspeitos construídos no meio dos manguezais, que podem ser usados como cativeiros ou para esconder armas e drogas”, afirma.
O guia diz ainda que os bandidos levam “tudo” dos turistas. “Molinetes, varas de pesca, anzol, celulares, carteira, relógio. Deixam o turista na água e levam a embarcação completa”.
Soluções
Ao fim do encontro, as autoridades presentes se comprometeram a realizar ações de combate aos criminosos. “Nosso setor de inteligência vai levantar informações (sobre locais dos assaltos) e vamos elaborar uma planilha e enviar por e-mail para outras autoridades”, disse o delegado Gaetano Vergine.
Com base nestas informações, o delegado da Polícia Federal, Ciro Moraes também se comprometeu a direcionar o policiamento para os locais que concentram maior número de ocorrências.
“Importante termos essas informações para planejarmos ações em conjunto imediatas e futuras”, completou o coronel Ricardo Ferreira de Jesus.
O capitão de mar-e-guerra Alberto José Pinheiro de Carvalho, comandante da Marinha, afirmou que fiscalizações poderão coibir esses tipos de ações criminosas. “Também podemos contribuir fazendo a fiscalização de uma embarcação que, possivelmente, será usada para um crime”.
Jornal A Tribuna – Imagens: TV Vanguarda
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