Pescadores denunciam deformação de peixes na Foz do Rio Doce
Em Linhares (ES), os pescadores têm presenciado o fenômeno durante todos esses meses e, esta semana, uma denúncia vinda de Colatina (ES) traz a mesma aberração. “Eu nunca vi aquele tipo de coisa. Meu esposo mora aqui há dezesseis anos e eu há seis. Nem nós nem minha sogra nunca vimos. Depois disso, a gente não entrou mais na água”, relata, assustada, a pescadora Adriellen.
Mas, não tendo outra fonte de renda, muitos continuam pescando, mesmo desconfiando da segurança do ato. E, enquanto no mar simplesmente não há quem compre o pescado, no rio as vendas ainda continuam, porém, desde fevereiro, deformações nunca vistas antes nos peixes começaram a se tornar cada vez mais comuns.
Já Milton Jorge afirma que casos como esse estão acontecendo cada vez com maior frequência. Há oito meses, espécies com pele mais fina, como robalos, tucunarés e bagres amarelos, praticamente foram exterminados. A tainha também diminuiu muito e as que ainda aparecem estão cheias de machucados e deformações, o mesmo tem ocorrido com tilápia (espécie encontrada por Adriellen em Colatina) e a Curmatã. Situação um pouco menos dramática é a do Cascudo, Manjubinha e Carapeba.
Fim da pesca
“Eles exterminaram a cultura do pescador”, denuncia Milton. O presidente da Colônia de Pesca de Linhares também desaprova a forma como foram feitos os cadastros pela empresa, que acabaram contemplando muita gente que não é pescador. “A empresa foi cadastrando todo mundo que se dizia pescador, sem pedir comprovação. E um monte de pescador de verdade, registrado aqui, ficou de fora”, reclama.
Milton tem clamado por explicações e ajuda para seus companheiros, no rio e no mar. “Nossa preocupação é que o pessoal de Barra Seca, a Samarco não reconheceu”, diz.
Uma sugestão que já fez à empresa e ainda não foi aceita é de repovoamento das lagoas, junto com o município. Linhares tem 69 lagoas e estão todas “cercadas” desde novembro, mês do crime do rompimento da barragem, como forma de impedir a entrada da lama a partir do Rio Doce.
O problema é que a medida foi tomada em novembro, no auge do período reprodutivo dos peixes – que vai até 28 de fevereiro –, quando eles entram para as lagoas para reproduzir. Impedidos de seguir seu ciclo natural, acabaram condenando as lagoas a um despovoamento cruel.
Adriellen pede que seja feita uma “pesquisa mais aprofundada” sobre a saúde do pescado no Rio Doce, duvidando dos laudos que dizem sobre a segurança em se comer o peixe e ingerir a água. “Deviam pesquisar um pouco mais e abrir a pesquisa pra população que foi atingida”, reivindica. “Aqui [Maria Ortiz] é uma vila de pescador. O lazer que a gente tinha, aquela vontade da pessoa pescar, as crianças que brincavam e jogavam bola no rio, e mesmo os adultos que iam jogar bola, hoje não existe mais”, lamenta.
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