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Biólogo Richard Rasmussen é acusado de matar animal para forjar denúncia em 2014

Apresentador de natureza mais conhecido do Brasil, o biólogo Richard Rasmussen está sendo acusado de pagar pescadores para matar um boto rosa e, dessa forma, obter imagens fortes e chocantes que ilustraram uma reportagem e influenciaram o governo brasileiro a fazer uma moratória ambiental, afetando o ganha-pão de centenas de pessoas.

A acusação é do documentário norte-americano A River Below (Um Rio Abaixo, em tradução livre), do diretor Mark Grieco, exibido no fim de abril no conceituado Festival de Cinema de Tribeca, em Nova York.

Inicialmente um projeto que mostraria o trabalho do biólogo marinho Fernando Trujillo na Colômbia, Grieco trouxe sua narrativa para o Brasil ao ver as imagens do Fantástico. Queria ter cenas fortes em seu filme, como as dos golfinhos mortos no Japão mostradas no documentário The Cove (2009), de Louie Psihoyos.

As cenas fortes supostamente forjadas por Rasmussen foram exibidas pelo Fantástico em julho de 2014, em uma reportagem de Sônia Bridi que mostrou como pescadores caçavam o boto rosa e usavam sua carne de isca para pescar piratinga, um peixe carniceiro valioso na região.

Nas imagens, uma fêmea grávida de boto é caçada e, ao ser cortada em pedaços, é possível ver um feto formado, que também é usado como isca. Rasmussen não foi identificado como autor dos vídeos. O Fantástico informou que eles tinham sido cedidos pela Ampa (Associação Amigos do Peixe-Boi, da qual o apresentador é associado).

Pressionado pelas imagens fortes mostradas pela Globo, o governo federal decretou uma moratória que proíbe a pesca de piracatinga durante cinco, anos a fim de proteger o boto rosa, mamífero em extinção usado como isca.

Em entrevista ao Notícias da TV, Rasmussen confirma ter participado da gravação, mas nega que pagou aos pescadores para que matassem o boto. “Eu nunca pagaria ou mesmo participaria do sacrifício de qualquer animal. A matança dos botos é monitorada há anos por ambientalistas e já estava sendo investigada pelo Ministério Público. Minha intenção foi alertar o grande público que a matança de botos é uma realidade dura e cruel”, conta ele.

Rasmussen também nega que as imagens chocantes tenham sido forjadas: “Quem tiver acesso às imagens perceberá a prática dos pescadores na captura e limpeza do boto. Não foi algo montado e também não era a primeira vez que aquilo estava ocorrendo”.

Herói e vilão
O documentarista Mark Grieco teve a ideia de fazer um documentário sobre a matança dos botos após ver as imagens feitas por Rasmussen no Fantástico. Ao chegar à Amazônia, foi informado pela população local de que as pessoas no vídeo não eram da comunidade e que teriam sido levadas até lá pelo próprio biólogo, seus rostos foram desfocados nas imagens para que não fossem reconhecidas.

Depois de cerca de seis meses de busca pelos pescadores filmados, Grieco pôde ouvir o outro lado da história: os envolvidos acusam Rasmussen de pagar R$ 100 a cada um para que reproduzissem em frente às suas câmeras as práticas de caça ao boto. Em entrevistas gravadas, dizem ainda que o apresentador afirmou a eles que as imagens não seriam exibidas na TV, que apenas as encaminharia ao governo.

Com essas informações, Grieco procurou o biológo e preparou uma pegadinha para ele: ainda apresentando a ideia de fazer um documentário sobre os botos, fez com que Rasmussen falasse sobre seu trabalho na defesa dos animais.

Assim, na primeira metade do filme, o apresentador é pintado como um herói, alguém que toma as atitudes necessárias para salvar uma espécie ameaçada. Rasmussen chega a desdenhar das pessoas que apenas repetem “Não matem os botos” como um mantra.

“Não é o bastante. Precisamos fazer mais, precisamos de ações. Parem de falar e façam alguma coisa! Eles estão matando nossos botos, estão matando toda a nossa fauna. Matam rinocerontes, gorilas, tubarões. Eles… Nós matamos tudo, estamos destruindo o planeta. E ficamos de conversinha mole? Foda-se!”, desabafa o biólogo, com passagens por Record, SBT e NatGeo.

Na segunda metade do documentário, Grieco confronta Rasmussen sobre o suposto pagamento aos pescadores e sobre as imagens que teriam sido forjadas. Afirma o cineasta que, com a proibição da pesca, famílias inteiras perderam sua única fonte de renda e, por isso, o apresentador estaria jurado de morte.

O documentário mostra a visita de Rasmussen aos pescadores, após o apresentador ser informado de que as famílias da região não tinham mais como ganhar dinheiro para se sustentar. Segundo o biólogo, sua visita é motivada pela transparência.

“Eu nunca pretendi prejudicar a comunidade e, por isso, precisava entender por que estavam ‘me jurando de morte’, utilizando as palavras do diretor do documentário. Eu sempre tive a confiança das comunidades por onde passei”, justifica ele à reportagem.

Institutos Avaliam Imagens

“Tanto a Ampa quanto o Instituto de Pesquisas da Amazônia viram as imagens e as validaram como legítimas. Tivemos o cuidado ainda de submetê-las ao Ministério Público Federal no Amazonas e fundamentar a reportagem em pesquisas do Instituto de Pesquisas da Amazônia, da UFRJ e da UERJ, que comprovaram, em amostras compradas nos mercados, que havia carne de boto rosa nas vísceras de piracatinga, peixe nocivo à saúde humana por conter altos níveis de metais pesados.”

“Autoridades da preservação já indicavam, na época, que a população de botos estava diminuindo em 10% ao ano por causa da pesca da piracatinga. Para a TV Globo, a correção na apuração jornalística jamais é colocada em risco seja qual for a causa em jogo.”

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