O índio da etnia baré, Arlindo Nogueira, baleado em uma das mãos, na última sexta-feira (16) na zona rural do município de Santa Isabel do Rio Negro foi indiciado por resistência. O delegado da cidade, Aldinei Brito, revelou ao Jornal Em Tempo que a comunidade estava sendo investigada por denúncias de ameaças, constrangimento de pessoas que passava pelo rio Uneuixi e porte ilegal de arma de fogo.
O delegado titular da 76ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP), disse que o caso aconteceu durante uma diligência planejada com antecedência pela equipe. De acordo com Brito, foram enviados três policiais disfarçados ao local para apurar denúncias de que pessoas estariam sendo ameaçadas pelos índios nos últimos três meses, porém os policiais acabaram presenciando um roubo.
“A gente vinha recebendo registros de ocorrências tanto de pessoas ligadas a pesca esportiva, como de moradores do município de Santa Isabel de que estariam sendo impedidos de passar pelo rio em frente a essa comunidade Tabocal do Uneuixi. Tentamos contato prévio para que comparecessem à delegacia, mas não tivemos sucesso, assim fizemos a diligência”, detalhou.
Antes de enviar os policiais, o delegado disse que procurou saber se o local se trata de alguma área de preservação ambiental ou de área indígena de fato, mas a Polícia Civil nunca recebeu documentação de organização indígena ou entidade, informando que naquela a navegação seria proibida, ou que pessoas não poderiam passar pelo rio na região.
“Enviamos um oficio para a Secretaria de Turismo do Município solicitando essas informações. Como resposta, recebemos três ofícios em que a secretaria destaca que não havia nenhuma informação de que naquela área seria proibida a passagem ou pesca esportiva ou mesmo passagem de embarcações. Só depois de todas essas precauções foi que determinamos as diligências”, explicou o delegado Brito.
Para que pudessem apurar os fatos, a polícia não usou embarcação policial, mas sim um barco de pesca esportiva. Dois policiais civis e um policial militar, conseguiram um barco hotel da empresa Amazon Sport Fishing, uma das quais, já havia feito denunciado o comportamento hostil desse grupo indígena no 76ª DIP.
Segundo relato do delegado Brito, assim que o barco principal passava pela comunidade em questão, alguns moradores se aproximaram de uma embarcação menor e a furtaram. Tratava-se de uma lancha pequena de propriedade da empresa Amazon. De acordo com o delegado, a ação foi filmada pelos policiais e deve ser usada no inquérito que investiga o caso.
Ainda de acordo com o delegado, ao verificar o crime de furto, os policias enviados para observarem o comportamento dos índios, foram até à comunidade para entregar uma intimação para os líderes da comunidade, mas acabaram hostilizados pelos moradores. “Os moradores se insurgiram contra os policiais e começaram a ameaçar com uso de arma branca, pedras e chutes. Um escrivão foi agredido com chute e pedrada, ficou com hematomas.
Nós temos fotos de tudo isso e foi feito exame de corpo e delito. Temendo contra a vida, um policial fez disparo para o chão para intimidá-los”, detalhou Brito, completando que, nesse momento, o indígena Arlindo Nogueira tentou tirar uma submetralhadora das mãos do investigador de polícia, que relutou em atirar e travou um embate contra o indígena da comunidade.
“A nossa preocupação era que se o comunitário pegasse a arma, e por falta de treinamento acabasse ferindo os policiais ou até mesmo os moradores”, declarou. A polícia ainda apura se Arlindo Nogueira foi baleado ao tentar tirar a arma, ou em outro momento.
O comunitário Arlindo Nogueira foi indiciado pelo crime de resistência, mas com retirado da custódia, pela necessidade de ser transferido para Manaus para receber tratamento médico. Na capital, Nogueira recebeu tratamento e não corre mais risco de ter a mão amputada. Ele ainda deve passar por nova cirurgia e fisioterapia para recuperar todos os movimentos.