O mercado da pesca esportiva movimenta milhões de dólares em todo o mundo e no Brasil tem ganhado notoriedade há cerca de 15 anos. A prática, que inclui a modalidade de pesque e solte, pode causar ferimentos e até mesmo a morte de peixes. No entanto, se praticada seguindo alguns procedimentos, os efeitos negativos da atividade podem ser atenuados principalmente para algumas espécies que são vulneráveis ou consideradas ameaçadas, como os meros, garoupas, badejos, robalos, entre outros.
Pensando nisso, o Projeto Meros do Brasil, que conta com o patrocínio da Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental, lança o e-book “Guia de Boas Práticas de pesque-solte”, reunindo um conteúdo inédito que deverá orientar praticantes do esporte para um melhor manejo dos peixes, reduzindo assim as taxas de mortalidade ainda registradas pela modalidade.
Segundo Matheus Freitas, Gerente de Gestão Ambiental do Meros do Brasil, a ideia do Guia surgiu a partir do aumento exponencial dos adeptos da pesca esportiva e amadora. “A partir daí, percebemos a necessidade de trazer informações, em linguagem clara e direta, sobre procedimentos básicos de manejo e soltura adequada dos exemplares capturados e soltos pela atividade”, esclarece. Além da pesca amadora, muitas das sugestões contidas no Guia são úteis também para pescarias artesanais, comerciais, de linha, espinhel, rede e arrastos, que capturam meros e outras espécies ameaçadas de forma acidental.
Com prefácio de Lawrence Ikeda, biólogo e apresentador do BIOPESCA no canal FishTv, e baseado na literatura científica especializada e nas experiências dos projetos Meros do Brasil e Robalo, o Guia, que ficará disponível no site do Projeto Meros gratuitamente (www.merosdobrasil.org) aborda aspectos que vão desde sugestões de anzóis ou puçás a serem utilizados, até como manejar o peixe para tirar fotos, tempo de exposição fora d’água, e soltura adequada, finalizando com os dispositivos de redução de mortalidade devido ao barotrauma. Um dos principais diferenciais do material serão os vídeos, contendo explicações detalhadas sobre como proceder, por exemplo, nessas situações.
“O barotrauma acontece pela variação de profundidade durante a captura e é uma das principais causas de morte dos peixes na pesca esportiva. Resumidamente, a bexiga natatória se expande de forma muito rápida, comprimindo outros órgãos internos. Se a bexiga não for “descomprimida”, prontamente, pode causar danos à saúde do peixe e levá-lo à morte. Como o peixe não consegue realizar essa descompressão por si só, é necessária a intervenção do pescador antes de devolvê-lo ao fundo do mar”, explica Freitas.
Assim, o livro também traz alternativas de ferramentas a serem utilizadas para soltura, como um dispositivo criado recentemente, o BFDD, com a participação de diversos segmentos – ONGs, universidades e empresas de pesca (FishTV e Moro/Deconto) – incluindo o Instituto Meros do Brasil. O BFDD ou Brazilian Fish Descending Device – na tradução livre Dispositivo Brasileiro de Descida de Peixes – é um instrumento que consiste em uma estrutura de aço inox com uma mola aderida, que é inserido na boca do peixe.
Para facilitar a descompressão da bexiga natatória um peso, que varia em função do tamanho do peixe, é anexado ao dispositivo, e com o auxílio de uma linha de pesca ou corda que conduz o peixe para o fundo, a própria pressão atmosférica retornará a bexiga para o volume original. “O BFDD funciona como uma espécie de pinça, assim que a mola é inserida na boca do peixe, o pescador solta o animal e quando ele chega ao fundo é só puxar a linha que foi amarrada ao dispositivo sem causar nenhum dano ao peixe. Acreditamos que será uma ferramenta importante não só para a pesca esportiva, mas também para diversas espécies de peixes que tem moratórias, épocas e janelas de capturas de tamanho e que são também alvo da pesca comercial”, salienta Freitas.
Por ser uma espécie ameaçada, e comumente capturado de forma incidental, o Guia apresenta sugestões focadas para os meros, mas não se restringe a eles. Diversas outras espécies, também ameaçadas e contempladas em planos de recuperação (como a garoupa-verdadeira, garoupa-São-Tomé, badejo-quadrado, caranha, bagre-branco) e de valor comercial (como pescadas, robalos, miraguaia, etc.) estão contempladas no livro, funcionando como uma importante ferramenta para ajudar na conservação marinha. (Clique na imagem abaixo para baixar p e-book)
SOBRE O PROJETO MEROS DO BRASIL
Criado em 2002 em Santa Catarina, o Projeto Meros do Brasil atua hoje em nove estados do país (Pará, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina) com o objetivo de garantir a conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros, e do peixe mero, que é considerada a maior espécie de garoupa do Oceano Atlântico. Devido à destruição de seus habitats, sobrepesca e poluição, a espécie é considerada Criticamente Ameaçada de Extinção e está protegida integralmente há 19 anos. Desde então, em quase duas décadas de atuação, o Meros do Brasil consolidou o seu trabalho e tem oferecido os principais subsídios para a recuperação das populações de meros na costa brasileira. Em 2013, foi criado o Instituto Meros do Brasil para implementar a gestão e a governança das ações do Projeto como, por exemplo, a implantação da moratória nacional de pesca, sendo pioneira para uma espécie de peixe marinho no Brasil.
Para mais informações visite www.merosdobrasil.org