Codevasf vai lançar 7 milhões de alevinos no Rio São Francisco
Cerca de sete milhões de alevinos de espécies nativas deverão ser soltas no rio São Francisco em 2013, por meio de uma centena de peixamentos em pontos diferentes da bacia. Essa ação tem como objetivo a recomposição da ictiofauna de rios, lagoas e grandes reservatórios hídricos na bacia do São Francisco.
Além da revitalização desses ambientes, busca a sustentabilidade da atividade pesqueira com o aumento da abundância de peixes e a diminuição dos efeitos dos impactos ambientais sobre grande parte das espécies mais visadas. Também pretende recuperar peixes que encontram-se ameaçados de extinção.
Em 2012, foram produzidos cerca de 11,8 milhões de alevinos nos sete Centros Integrados de Recursos Pesqueiros e Aquicultura, administrados e operados pela Codevasf. No mesmo ano, foram realizados 33 peixamentos. Para 2013, a meta dos centros é subir a produção para 15 milhões de alevinos, sendo que 7 milhões, espécies nativas do Velho Chico, serão lançados no rio em 100 operações de soltura de peixes.
O pescador José Francisco Nunes da Silva (43), que mora no projeto Bebedouro (PE) desde que nasceu, foi um dos que sofreu os impactos da diminuição da biodiversidade de espécies de peixes da bacia hidrográfica do São Francisco. “Muitos peixes estão morrendo com esses dejetos que são lançados no rio”, disse.
Após as ações de peixamento da Codevasf, José Francisco e outros pescadores da região relatam que alguns peixes que já não eram mais encontrados começam a reaparecer nas redes de pescas. “A ação da Codevasf é muito importante para o meio ambiente. Estamos conseguindo pegar muito mais peixes, graças aos peixamentos”.
Os peixamentos também são uma importante forma de divulgar conceitos de educação ambiental com foco na interdependência entre conservação da biodiversidade, qualidade de vida e economia local. Outro benefício dos peixamentos é a fixação da população local devido a manutenção da pesca e da segurança alimentar gerada pelo aumento dos estoques pesqueiros no rio.
Causas da diminuição das espécies – A construção de grandes barragens ao longo do rio São Francisco, como a de Três Marias, em Minas Gerais e a de Sobradinho, na Bahia, provocou o surgimento de obstáculos à migração reprodutiva dos peixes e restringiu acentuadamente as cheias à jusante dos reservatórios, reduzindo o enchimento das lagoas marginais que funcionam como berçários para dezenas dessas espécies.
Como consequência, houve acentuada diminuição dos estoques pesqueiros, assim como diminuição da biodiversidade de espécies de peixes da bacia hidrográfica, causando o quase desaparecimento de algumas delas, como o pirá (Conorhynchos conirostris), a matrinxã (Brycon orthotaenia) e o pacamã (Lophiosilurus alexandri).
A pesca predatória, o uso inadequado do solo e a destruição de habitats contribuíram, isoladamente ou associadas ao barramento, para o declínio da ictiofauna do rio São Francisco, sendo essencial a realização constante de medidas para a recuperação, a conservação e o manejo de espécies nativas do rio.
Sobre as espécies – A Codevasf, em suas ações de peixamentos, utiliza apenas espécies nativas da bacia hidrográfica, como o pacamã, curimatã, dourado, matrinxã, pirá, piau, piaba e surubim.
Os reprodutores e as matrizes (peixes machos e fêmeas que serão utilizados para reprodução em laboratório) são coletados no próprio rio, de tempos em tempos, com autorização do órgão ambiental responsável. Essa renovação de matrizes visa garantir a variabilidade genética dos peixes que são soltos no rio.
O engenheiro de pesca e chefe do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Bebedouro (3ª/CIB), em Pernambuco, Rozzanno Figueiredo, explicou que primeiramente são capturados os indivíduos jovens das espécies que se pretende reproduzir, principalmente à montante da barragem de Sobradinho, onde ainda podem ser encontrados vários tipos de peixes. Os juvenis capturados são mantidos até a idade adulta (fase de maturação sexual) nos viveiros do Centro, processo que pode durar até cinco anos.
“A partir daí são feitas pesquisas e experimentos visando desenvolver ou aprimorar um pacote tecnológico para a reprodução, larvicultura e alevinagem destas espécies. Após essa etapa, vem a produção em si que, a depender da espécie pode durar de 30 a 60 dias da reprodução até a soltura dos peixes em locais estratégicos”, observa Figueiredo.
Segundo Rozzanno Figueiredo, a partir da soltura do alevino no rio, seu habitat natural, o peixe passa por vários processos de desenvolvimento, podendo estar apto para a reprodução de 1 a 5 anos, a depender da espécie e das condições naturais, como quantidade de alimentos, qualidade, volume e vazão da água, entre outras.
Centros Integrados – Em Pernambuco, foram realizados dez peixamentos em 2012 e produzidos cerca de 1,7 milhão de alevinos. A previsão para este ano é que sejam realizados outros dez peixamentos e produzidos cerca de 800 mil alevinos, sendo 300 mil de espécies nativas. Os peixamentos realizados pelo Centro de Bebedouro são feitos à jusante da barragem de Sobradinho, no trecho de Petrolina à Cabrobó (PE).
O Centro Integrado de Bebedouro produz e lança no rio São Francisco espécies como curimatã, pacamã, piau, dourado e surubim. Rozzanno Figueiredo informou que oficialmente não existe nenhuma espécie extinta no rio, porém várias estão ameaçadas e algumas não aparecem mais nas estatísticas pesqueiras de alguns trechos. “Peixes como pacamã por exemplo, que estavam sumidos, voltaram a ser capturados no trecho onde efetuamos nossos peixamentos”, informou.
Em Pernambuco, existem mais de 8,5 mil pessoas registradas que sobrevivem da pesca e da aquicultura. Além dos municípios de Pernambuco, o Centro também beneficia pescadores e aquicultores da Bahia na área de jurisdição da 6ª Superintendência Regional da Codevasf, em Juazeiro (BA).
Em Sergipe, no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Betume (4ª/CIB), foram realizados oito peixamentos em 2012 e produzidos cerca de 2,6 milhões de alevinos. A previsão para este ano é de que sejam realizados cinco peixamentos. Os peixamentos com a espécie curimatã foram realizados no Baixo São Francisco, entre os municípios de Propriá a Neópolis.
Segundo a engenheira de pesca e chefe do Centro Integrado de Betume, Ana Helena Gomes da Silva, será iniciada uma reforma no Centro para aumentar sua capacidade de produção e diversificar as espécies. “Já iniciamos o plantel de piau, pacamã e surubim, e após a reforma, além de produzir estas espécies para peixamento, poderemos formar plantel de outras espécies nativas para utilizá-las no repovoamento”, acrescentou. Ela, assim como Rozzanno, reforçou que nenhuma espécie está extinta, mas algumas já são encontradas com dificuldade no Baixo São Francisco, como o surubim e o pacamã.
Nos Centros Integrados da Bahia, Alagoas e Minas Gerais foram realizados 15 peixamentos em 2012 e produzidos aproximadamente 4,4 milhões de alevinos de espécies nativas. Em 2013, a previsão é de que sejam realizados 83 peixamentos e produzidos mais de 6 milhões de espécies nativas para essas ações de repovoamento.
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