Indústria beneficia só 10% da produção de pescado no Amazonas
A produção de pescado no Amazonas é de aproximadamente 200 mil toneladas anuais, porém, apenas 10% desse total são beneficiados ou processados. Cerca de 50% são utilizados na alimentação das populações ribeirinhas. As informações são da Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura (Sepa) e da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS).
O pescado é a principal atividade produtora de proteína no Estado e precisa ser incentivado, afirma o secretário executivo da Sepa, Geraldo Bernardino. “A importância está não só na geração de renda, mas também no potencial desenvolvimento dessa indústria no Estado”, destaca.
Geraldo Bernardino aponta a necessidade de altos investimentos como a principal dificuldade do setor, assim como os efeitos sazonais da pesca.
Consumo
“A oferta de matéria-prima é extraordinária, mas por outro lado somos o maior consumidor de peixe per capita do Brasil e do mundo”, afirma o chefe do Departamento da Cadeia Produtiva do Pescado da ADS, Rigoberto Pontes.
O consumo de peixes no Estado é de 40 quilos (kg) por pessoa ao ano, enquanto a média nacional é de 9 kg anuais, de acordo com a Sepa.
Apesar de toda a potencialidade, apenas 10% do pescado ou 15 mil toneladas passam por agregamento de valor.
“Essas distorções são problemáticas. A maioria dos municípios do Amazonas tem potencial de produção e o índice de perda por falta de estrutura de armazenagem é de cerca de 35%”, afirma Rigoberto.
Vender inteiro, seco, salgado ou mecanicamente separado são algumas das possibilidades de beneficiamento do peixe, que traz maior valor comercial e pode ser transformado em hambúrguer, bolinho ou empanados em geral.
Porém, os custos para montagem de uma estrutura são muito altos. Para uma pequena fábrica de processamento, por exemplo, são necessários investimentos em torno de R$ 2 milhões.
“Não há necessidade de inovações tecnológicas para captura, mas para uma estrutura pós-captura”, ressalta Rigoberto.
Aquicultura
A meta do Governo do Estado é aumentar em 40% o pescado proveniente da aquicultura, mas também fomentar o aproveitamento do pescado para fazer óleo e farinha, segundo a Sepa.
Atualmente, Manacapuru, Iranduba, Itacoatiara, Tefé e Maués são os únicos municípios com indústrias de processamento que produzem filé de peixe, peixe eviscerado congelado, picadinho de peixe ou carne mecanicamente separada.
As grandes fábricas têm capacidade de 30 a 40 toneladas de processamento diário e armazenagem de 1 mil a 1,5 mil toneladas ao ano. Já as pequenas podem processar de 2 a 5 toneladas/dia e armazenar 50 a 100 toneladas.
Outro segmento que pode ser explorado é o aproveitamento da pele do peixe e do óleo, que são subprodutos do peixe. Dois grupos de empresas nacionais estão interessadas em abrir fábricas de aproveitamento de peixe, uma para adubo e outra para curtimento da pele, de acordo com a ADS.
Na busca pela redução de custos, a ADS possui um projeto, aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que busca baratear a construção de uma fábrica de processamento com o uso de contêineres.
O projeto possui custo equivalente a um terço ou até metade do convencional, feito com material de alta resistência, inox e apropriado para alimentos. Até o fim do ano, uma unidade será instalada em Rio Preto da Eva em parceria com o Exército Brasileiro e a RChaves Engenharia.
Potencialidades
A capacidade de beneficiamento para agregar valor ao produto é a alternativa econômica natural do Amazonas, dizem especialistas.
“Temos uma vocação muito forte para a pesca, mas devemos ver a possibilidade de atração das indústrias de processamento”, analisa o economista José Laredo. “O Estado deveria apoiar com incentivos extrafiscais, que incluem alongamento de prazo de recolhimento, por exemplo”, avalia. Para Laredo, essa é uma forma de o empresário ganhar tempo para contar com capital de giro melhor para a empresa.
“Temos muitas potencialidades econômicas, mas estamos na dependência do Polo Industrial de Manaus (PIM)”, afirma o presidente do Conselho Regional de Economia, Marcus Evangelista. “Falta vontade para promover e fomentar essas indústrias, com linhas de crédito, bons portos e boas estradas”, destaca.
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